Estudo mostra que SUS tratou maioria de acidentados do trabalho em Salvador

22/01/2008 - 6h52

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Pesquisa daUniversidade Federal da Bahia (UFBA) constatou que mais de 70% dostrabalhadores que precisaram de tratamento médico por causa deacidentes de trabalho na capital baiana em 2000, 2002 e 2004 foramatendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O levantamento, financiado pelo Ministérioda Saúde para suprir a falta de dados sobre acidentes detrabalho, acompanhou a vida de 9,5 mil trabalhadores de Salvador noperíodo e mostrou que 628 deles sofreram algum acidente detrabalho nos 12 meses anteriores à entrevista.Dos 311 acidentados que necessitaram de tratamentomédico depois dos primeiros socorros, 75,6% foram atendidos narede pública de saúde. O tratamento, com duraçãomédia de duas semanas, foi considerado altamente satisfatório(com notas entre 8,1 e 10,0) por 51,3% dos atendidos.Juntos, empresas e planos de saúde (muitasvezes contratados por elas) custearam menos de 20% dos tratamentosrealizados, enquanto 5,3% deles foram pagos pelos própriostrabalhadores.Segundo Vilma Santana, coordenadora da pequisa edo Programa Integrado de Saúde Ambiental e do Trabalhador daUFBA, os dados confirmam evidências de que o poder públicotem arcado com os custos gerados por acidentes em ambientes privados.Para ela, todo acidente de trabalho épotencialmente evitável e por isso os empregadores deveriamser responsáveis pelos gastos gerados pela falta de prevenção.A coordenadora defende que os custos deveriam ficar com quem estáprovocando, mas como existe a universalidade da atençãoà saúde pelo SUS fica o conflito.“Como não dói no bolso de quemestá provocando [o acidente], há uma situaçãode 'deixa como está'. O empregador não protege seustrabalhadores, eles se acidentam e quem paga a conta não énem o plano de saúde, é o SUS, então nãohá motivação para que as empresas tenham umaresponsabilidade maior sobre a prevenção dos acidentesde trabalho” argumentou.Vilma Santana lembrou o mecanismo criado peloMinistério da Previdência para incentivar a prevenção.Por meio de um levantamento técnico-epidemiológico queidentifica empregadores com excesso relativo de casos de acidentes,são criadas alíquotas de contribuiçãomaiores do que aquelas aplicadas às empresas que protegem seustrabalhadores.Para ela, iniciativas de ressarcimento de gastosna saúde também poderiam ser adotadas para estimular aprevenção.De acordo com a pesquisadora, estudos mostram quenos serviços de emergência as principais ocorrênciasem ambientes de trabalho são lesões oculares, comoperfuração por farpas de madeira ou líquidoscorrosivos, que poderiam ser evitadas com o simples uso de óculos.Ela ressaltou, no entanto, que na maioria doscasos, as empresas precisariam investir na troca de equipamentos e emmudanças no processo de produção para reduzir onúmero de acidentes. Segundo o Ministério da Saúde, essasocorrências causam a morte de 14 em cada 100 mil trabalhadoresbrasileiros, por ano. O coeficiente de mortalidade por acidentes detrabalho é sete vezes maior do que o registrado na Finlândia,por exemplo.