Ana Luiza Zenker*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os relatos sobre as condições do seqüestro e as imagens de rostos marcados dos reféns em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) causaram hoje (15) um forte impacto em Bogotá, enquanto o presidente colombiano Alvaro Uribe insistiu em estabelecer uma “zona de encontro” para negociar com os guerrilheiros.Os seqüestrados revelaram sofrimento nas cartas escritas para familiares e levadas pela ex-congressista Consuelo González, liberada na quinta-feira (10) com Clara Rojas, ex-candidata a vice-presidente da Colômbia.Recém-chegada à capital colombiana, González se reuniu no apartamento de sua filha Patricia Perdomo com parentes de oito seqüestrados, que leram as cartas escritas em folhas de caderno. As primeiras fotos divulgadas pela imprensa e as cartas comentadas pela rádio falam também de correntes ao redor dos pescoços, péssimo estado físico e mostras de esgotamento e dor. Em declarações à Rádio Caracol, María Teresa de Mendieta e sua filha leram as cartas nas quais o marido e pai, o tenente-coronel Luis Mendieta, narrou problemas de saúde nos últimos seis meses. Ele está seqüestrado há nove anos e segundo a mulher, foi acorrentado a uma ávore e obrigado pela guerrilha a fazer suas necessidades, inclusive as causadas pela diarréia, na panela destinada a receber sua comida. Chorando, María Teresa de Mandieta relatou outros problemas e disse não crer que “nenhum guerrilheiro” tenha sofrido tratamento semelhante nas cadeias do governo.Em uma frase da carta lida pela filha do tenente-coronel, Mandieta afirma: “Não é a dor física o que me detém, nem as correntes em meu pescoço o que me atormenta, mas sim a agonia mental, a maldade do mau e a indiferença do bom, como se não valêssemos, como se não existíssemos.”Lucy de Gechem, mulher do ex-senador Jorge Eduardo Gechem, disse à rádio local que na carta ele conta que “o problema do coração o tem atormentado muito e explica que teve cinco ataques muito fortes – às vezes não se pode nem levantar a colher". Gechem, de 56 anos, está seqüestrado há seis. Os reféns enviaram cartas a alguns jornalistas, ao presidente Álvaro Uribe e ao diretor nacional de Polícia, Oscar Naranjo. Em viagem à Guatemala, Uribe renovou sua proposta de uma “zona de encontro” para negociar uma eventual troca de 43 reféns por cerca de 500 guerrilheiros presos. Essa zona de encontro é uma área de 150 quilômetros quadrados, em uma região rural, onde representantes do governo e da guerrilha se encontrariam desarmados para acertar as condições do intercâmbio.Uribe disse ter explicado à vice-ministra de Relações Exteriores da França, Rama Yade, que “o caminho que o governo da Colômbia abriu para obter a liberação dos seqüestrados que continuam em poder das Farc é o caminho da zona de encontro com mediação da Igreja Católica”.Yade levou a Uribe uma carta do presidente da França, Nicolas Sarkozy, que diz que a liberação de Rojas e González, “depois de longos anos, nos alegra e nos abre uma solução humanitária para a tragédia dos reféns na Colômbia”.