Desmatamento e urbanização contribuem para aumento da febre amarela, diz especialista

15/01/2008 - 14h12

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Odesmatamento intenso, a urbanização desordenada deáreas rurais e as conseqüentes mudanças climáticasdecorrentes de todo o processo colaboram para que doenças como a febre amarela se alastrem não sóno Brasil, mas também em um grande número de países em todo o mundo. A afirmação é do médico epidemiologista José Cássio de Moraes, da Santa Casa de São Paulo.

O últimorelatório divulgado pela Organização Mundial daSaúde (OMS) aponta crescimento não apenas do númerode casos de febre amarela como também do número depaíses atingidos pela doença nos últimos 20anos. “Todaessa mudança do ecossistema, o aquecimento global, chuvasintensas, calor, tudo isso é um facilitador de doençaspor vetores", disse o Moraes. Ele destacou a grande preocupação mundial com o que tais mudanças podem representar de aumento desse tipo de doença.

SegundoMoraes, existe ainda outro agravante: a grande dificuldade decontrole da transmissão pelo mosquito Aedes aegypti: Além do fácil acúmulo de água emrecipientes, o combate ao mosquito transmissor cominseticidas tem uma grande limitação – o produtose espalha facilmente e é necessária a visita deagentes de controle de casa em casa para um combate efetivo àslarvas. “Isso é praticamente inviável. Tem umadificuldade ecológica importante na transmissão dedoenças por vetores”.

Oepidemiologista lembrou que, no início do ano 2000, houve umaumento de casos de febre amarela similar ao que se registraatualmente no país – em viajantes que visitaram regiõesturísticas durante o período de férias,sobretudo nos estados de Goiás e de Mato Grosso.

“Napassagem do milênio, houve várias excursões alocais considerados exotéricos, como a Chapada dos Veadeiros [em Goiás] e a Chapada dos Guimarães [em Mato Grosso]. Tivemos um aumento razoável decasos de febre amarela em viajantes que foram para essas regiõese não estavam vacinados.”

Segundoele, a invasão de terras para a criação detrilhas ecológicas com fins comerciais, como é o casode regiões em Goiás e também em Minas Gerais,provocam grandes alterações no ecossistema, que podemlevar o mosquito haemagogus a substituir o macaco pelo homem. “Osmacacos vivem nas copas das árvores. O ciclo se forma e semantém restrito ali. Na hora em que as árvores sãodestruídas e surge a presença de um outro primata, oser humano, esse haemagogus vai substituir o macaco pelohomem”.

Moraesalerta que, se a expansão urbana em áreas rurais nãofor ordenada e equilibrada, a mudança pode acarretar nãosó o aumento de casos de febre amarela em escala mundial, comotambém de outras doenças transmitidas por vetores, comoa leishmaniose e a malária. “Existe toda essa questãode desequilíbrio e ocupação desordenada, quetraz este aumento de casos”.

Eleacredita que o quadro de febre amarela no Brasil é de umaepidemia localizada em população não-vacinada,que mora em regiões rurais ou que entra em contato com a mataonde podem ser encontrados macacos portadores do vírus dadoença.

De acordo com o epidemiologista,asituação endêmica ocorre quando existe um número bastante reduzido de casos.Os surtos são registrados apenas em áreas restritas,como uma comunidade ou uma escola. Já o alastramento de casosé caracterizado como epidemia. “Qualquer caso que excedaaquele padrão de poucos casos já se consideraepidemia”, afirmou Moraes.