Governo do Quênia descarta a realização de nova eleição presidencial

04/01/2008 - 17h44

Agência Telam

Brasília - O governo do Quênia descartou hoje (4) a possibilidade de realizar novas eleições presidenciais, como quer a oposição. “O governo não vai ceder à chantagem. As pessoas têm que parar de usar a violência como chantagem”, disse o porta-voz do governo, Alfred Mutua, segundo a agência italiana ANSA.Ele acrescentou que “se a Justiça ordenar uma nova eleição, será feita – o presidente [Mwai Kibaki] aceitará uma ordem da Justiça, o governo atuará de acordo com a Constituição”. A oposição no Quênia pediu hoje uma nova eleição presidencial para pôr fim à polêmica e à violência causadas pelo pleito disputado há uma semana.A comissão eleitoral proclamou o presidente Mwai Kibaki como vencedor das eleições de 27 de dezembro, mas o opositor, Raila Odinga denunciou que houve fraude e observadores internacionais questionaram a votação. Mais de 330 pessoas morreram desde então, segundo a Cruz Vermelha, em uma onda de violência pós-eleitoral.“Devemos nos preparar para uma nova eleição para presidente. Trata-se de democracia e de justiça. Continuaremos defendendo e promovendo o direito dos quenianos para que o processo democrático seja respeitado”, afirmou Anyang Nyongo, secretário-geral do Movimento Democrático Laranja, partido de Odinga.Ontem (3), o fiscal-geral do país, Amos Wako, pediu que um corpo independente investigue a votação e sua apuração. A pressão internacional sobre Kibaki aprofundou-se hoje, com declarações do chanceler francês Bernard Kouchner, que afirmou abertamente que a eleição foi “manipulada”. À rádio francesa RTL, ele disse: “Se as eleições foram manipuladas? Eu creio que sim, e muitos também acreditam.”O presidente norte-americano, George W. Bush, sugeriu que Kibaki e Odinga se reúnam para resolver a disputa e a todos os quenianos que evitem a violência. O secretário-adjunto de Estado norte-americano para Assuntos Africanos, Jendayi Frazer, chegaria hoje a Nairóbi para tentar mediar a crise, em reuniões com os dois candidatos.Odinga convocou ontem um milhão de seus partidários a irem às ruas de Nairóbi para protestar, mas os manifestantes foram reprimidos pela polícia e o partido decidiu suspender a marcha. A manifestação foi transferida para hoje, mas de acordo com a agência de notícias Europa Pressa, a capital está tranqüila. Em alguns bairros da periferia, o comércio amanheceu fechado e pequenos grupos de manifestantes começaram a se reunir para marchar até a praça central, Uhuru. Em outras localidades, no entanto, os habitantes já avisaram que não marchariam.Além dos mortos, há cerca de 100 mil desabrigados por causa da violência iniciada no país há uma semana. O Quênia é a primeira economia do leste da África e era considerado um dos países mais estáveis de uma região que inclui Somália e Sudão, onde ocorrem conflitos.Com o Brasil, o Quênia tem diversas parcerias em áreas com a comercial (balança comercial dobrou nos últimos quatro anos), a energética (biocombustível) e a social (combate à aids). No âmbito internacional, os dois países defendem uma reforma no Conselho de Segurança da ONU.