Ana Luiza Zenker*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A polícia queniana reprimiu hoje (3) a manifestação convocada pelo candidato derrotado nas eleições presidenciais da última quinta-feira (27). O candidato de oposição Raila Odinga havia convocado 1 milhão de partidários a se reunir na praça Uhuru, no centro da capital queniana para protestar contra os resultados da eleição, quando o presidente Mwai Kibaki foi reeleito, em meio a acusações de fraude.De acordo com números fornecidos pela polícia, cerca de 2 mil pessoas marchavam de diversos pontos de Naioróbi para se reunir na praça. A polícia usou gás lacrimogênio e jatos de água para dispersar um grupo que levantava barricadas em uma das principais avenidas da cidade, enquanto iam para a praça Uhuru.Na véspera, o governo queniano já tinha proibido a manifestação. A disputa política desencadeou violência em todo o país. Desde semana passada, estima-se que mais de 300 pessoas morreram e 100 mil saíram de suas casas.Segundo um alerta da Red24, uma rede especialista em alertas de segurança em todo o mundo, o comício que seria realizado hoje foi transferido para terça-feira (8). Brasileiro que vive em Nairobi, Carlos Winterle, diz que a mesma informação foi repassada aos moradores da capital queniana.Missionário da igreja luterana no país, Winterle diz que a expectativa é de que até terça haja tumulto. “A polícia está impedindo as pessoas de ir ao centro da cidade e nossa igreja fica exatamente neste Parque Uhuru, onde são as grandes concentrações. Não sei se poderemos ter culto no final de semana”, lamenta.Ele conta que desde o dia 26 de dezembro a família está reclusa em casa. Só saiu duas vezes e de forma rápida, no dia 31 e ontem (2), para ir ao supermercado.“Mas a situação é de um silêncio constrangedor no mercado, todos apressados, comprando alimentos para fazer estoque em casa, prevendo dias piores. Pão, frutas e verduras, à medida que são colocados no balcão, desaparecem nas mãos dos consumidores. No país vizinho, Uganda, já começa a faltar combustível, pois depende do abastecimento rodoviário do Quênia”, conta.De acordo com Winterle, só hoje foram liberadas imagens ao vivo na televisão. Foi por meio do noticiário que ele ficou sabendo que mais duas igrejas foram queimadas, em Kibera, maior favela do país. “Queimaram uma igreja anglicana e agora botaram fogo na nossa igreja [luterana] também”, disse.“Fiquei sabendo que colocaram fogo também na escola e na farmácia/ambulatório junto da igreja de Kibera, após roubarem tudo o que havia no ambulatório. Vândalos estão se aproveitando da situação e fazendo baderna.”Ele informou que começaram roubando o que havia no local e depois colocaram fogo, enquanto as pessoas ficaram olhando do lado de fora, sem poder fazer nada. Winterle lamenta o ocorrido, pois na igreja, segundo ele, a população recebia atendimento gratuito de duas ou três equipes médicas que vinham todo ano dos Estados Unidos.Ontem, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, se mostrou chocado com a violência desencadeada no Quênia, por meio de um comunicado divulgado por seu porta-voz. Ele convocou as autoridades políticas e religiosas a se lembrarem de “sua responsabilidade legal e moral de proteger as vidas de pessoas inocentes, independentemente de sua origem racial, religiosa ou étnica”.De acordo com informações da ONU, um dos principais problemas é o acesso de ajuda humanitária, já que a estrada Nairobi-Nakuru está bloqueada. Os corredores de transporte que saem do Porto de Mombasa também têm acesso restrito, o que dificulta o envio de suprimentos a operações de paz e humanitárias em outros países, como o Sudão, Uganda e Congo.