Número de doações limita transplante ósseo na rede pública, diz médico

22/12/2007 - 0h12

Débora Xavier e Irene Lôbo
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - O Brasil possui seis bancos de ossos que oferecem materialpara transplante de tecidos músculo-esqueléticos, que são ossos, cartilagens,pele e ligamentos. Todos os bancos estão localizados na região Sul e Sudeste dopaís: o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio deJaneiro; Hospital das Clínicas do Paraná; Hospital das Clínicas de São Paulo;Hospital Universitário de Marília, no interior de São Paulo; AssociaçãoHospitalar São Vicente de Paulo, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul; e SantaCasa de Misericórdia de São Paulo.De acordo com o chefe do Banco de Ossos do Into, Marco Bernardo Cury, a instituição tem como principal problema adificuldade de encontrar doadores. Apesar de poder fazer duas captações diáriasde tecido músculo-esquelético, o necessário para beneficiar cerca de 60pacientes, o banco não consegue diminuir a fila de pessoas que esperam pelotransplante - atualmente, são 1.400.A média de espera é de dois anos. Segundo Cury, a instituição é sub-utilizada, enquanto osque necessitam de transplante ósseo padecem “com muito dor”.E alerta: “A única coisa que limita nossotransplante é o número de doações. Se a gente tivesse mais doações, a genteconseguia fazer com que essa fila andasse mais rápido. A gente não tem um únicotecido ósseo no banco que não esteja comprometido a um paciente”.Segundo o médico, se houvesse mais doações, o banco poderia suprir a demanda detecido ósseo de todos os hospitais públicos que realizam transplantes no Rio deJaneiro. “E eventualmente repassar também para a rede privada.” Ele ressaltaque o material é insuficiente para os procedimentos que são executados no próprioInto. O banco de ossos recebeu, em 2005, duas doações; em 2006, seis.De acordo com o especialista, existem duas razões para a escassez de doações: odesconhecimento da importância da doação para os transplantes e o fato de osprofissionais de saúde não notificarem a morte de um possível doador. Ainda nãofoi pesquisado, entretanto, porque o número é tão pequeno.No último ano, os outros cinco banco de ossos brasileiros conseguiram 211 doações.Mas, entre esses bancos, apenas o Into oferece todo o material gratuitamente. “Temos hoje seis bancos de ossos no Brasil. Eles funcionam como o banco desangue: você paga pelo armazenamento, processamento e transporte daquela bolsade sangue. Eles [bancos de ossos] funcionam da mesma forma, você não paga peloosso, mas paga pelo processamento, pela distribuição, pelo armazenamento doosso. O nosso banco é o único que faz essa distribuição de forma gratuita”,explica.Todos os seis bancos são cadastrados no Sistema Nacional de Transplantes (SNT),vinculado ao Ministério da Saúde. Apesar de não existirem bancos de ossos nasregiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte do país, o SNT não considera isso umproblema.De acordo com a consultora técnica do órgão, MarilianeGuzzo, a demanda dos outros estados é suprida por meio de um termo decooperação que o Ministério da Saúde tem com empresas na área. “Assim como setransportam órgãos, transportam-se também tecidos, entre eles o osso, a válvula,a pele, e a córnea”, afirma.O transplante ósseo é necessário em casos de troca dasarticulações artificiais de quadril e joelho, correção de escoliose e outrasdeformações na coluna, além de atender pacientes com tumores que antes tinhamos membros amputados.