Índices de mortalidade infantil e desnutrição diminuem entre índios de Mato Grosso do Sul

22/12/2007 - 14h20

Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Oacompanhamento constante por agentes de saúde e políticascomo distribuição de cestas básicas e realização de "sopões" nas aldeias proporcionarama diminuição dos casos de mortalidadeinfantil e de desnutrição entre os índios doMato Grosso do Sul, em sua maioria guarani. De acordo com a Fundação Nacionalde Saúde (Funasa), o índice de mortalidadeinfantil era de 140 por mil crianças nascidas vivas em 2000 e caiu para 38 no anopassado.Nesta semana, foi criada uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar questões relacionadas à saúde indígena no Brasil, após mais de seis meses de negociação.Ocoordenador técnico de saúde da Funasa no DistritoSanitário Especial Indígena no Mato Grosso do Sul,Zelik Trajber, diz que, além da queda no índice, mudou o perfil das causas de óbito.“Nos primeiros anos, as mortes aconteciam mais por diarréia,desnutrição, desidratação, pneumonia.Hoje, as primeiras causas são más formaçõescongênitas, prematuridade extrema e as patologias decorrentesdisso”, afirma.Entre2004 e 2005, foi registrado o maior pico de mortes de criançaspor desnutrição dos últimos anos em Dourados (MS). Naépoca, cerca de 50crianças indígenas morreram na terra indígena. Trajberexplica que problemas de gestão foram determinantes para oagravamento do quadro. “Houve uma mudança de coordenaçãoem 2003 e, com isso, perdeu-se o enfoque das condutas e daorganização dos serviços. Também tivemosmuitos problemas de apoio, como a distribuição decestas básicas, e a equipe ainda era muito pequena”, afirma.Parareverter o problema, foi estabelecida uma padronizaçãono acompanhamento das crianças desnutridas: semanalmente oudiariamente, de acordo com o quadro. “Também conseguimosdistribuição universal de cestas básicas esuplementação de vitaminas”, diz Trajber.Com essasações, os índices de mortalidade caíram,mas ainda existem mortes de crianças indígenas pordesnutrição na área de Dourados. Segundo Trajber,neste ano foram registradas três mortes de crianças queeram desnutridas. “Mas a causa de óbito diretamente nãofoi em decorrência da desnutrição”, afirma.Segundoele, em 2002, 15% das crianças menores de 5 anos eramclassificadas como desnutridas, seja severa ou moderadamente. Atualmente,o índice é de 7%. “Hoje casos de crianças quevão a óbito diretamente por desnutriçãosão muito difíceis, mas há situaçõesque acompanham a desnutrição e que acabam sendo a causadeterminante”, afirma.A quedanos casos de morte se deve ao acompanhamento constante das criançaspelos agentes de saúde, que são índios daprópria comunidade. “Hoje a gente acompanha mensalmentetodas as crianças menores de 5 anos. Se a desnutriçãoé moderada, ela é pesada pelo menos uma vez por semana.Quando é classificada como desnutrida severa, tem que seracompanhada diariamente pelo agente de saúde”, explica.Emnovembro, foram registrados 18 casos de crianças comdesnutrição severa e 136 com desnutrição moderada na terra indígena deDourados – 334 estavam em situação de risco nutricional,1.624 foram classificadas como normais e 27 como obesas.Trajbertambém comemora o avanço na imunizaçãodas crianças indígenas. Segundo ele, hoje a coberturamédia vacinal é acima de 95% em todas as vacinas. AFunasa também organiza "sopões" nas aldeias, conforme anecessidade nutricional de cada grupo.Tambémhá a distribuição de cestas básicas paraas famílias indígenas. Mas, segundo Trajber, épreciso pensar na auto-sustentabilidade dos índios da região.“No meu modo de ver, a cesta básica é emergencial,mas necessária. No momento, é impossível falarem suspender. Mas é o momento de parar para pensar emprogramas estruturantes. Tem mil formas de pensar naauto-sustentabilidade. O que não pode é viver nadependência de cesta básica, que além de serdegradante, humilhante, não tem resultado práticosatisfatório, acaba inclusive com a auto-estima”, avalia.SegundoTrajber, a Funasa está montando uma equipe de saúdemental para cuidar dos casos de dependência de álcool edrogas, pensando especialmente na prevenção. Outra metaé chegar ao fim de 2007 com todas as casas atendidas comabastecimento direto de rede de saneamento básico. Hoje, aindafalta atingir cerca de 100 casas indígenas na região.De acordocom a Funasa, neste ano foram registrados 51 casos de mortes decrianças indígenas por desnutrição emtodo o país.