Obras de transposição poderão ser suspensas para a realização de debates

19/12/2007 - 0h59

Danilo Macedo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Depois de três horas de reunião para discutir a transposição do Rio São Francisco e a greve de fome do bispo de Barra (BA) dom Luiz Cappio, representantes do governo federal e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) chegaram a uma proposta intermediária que será levada para o Palácio do Planalto e para o religioso. Um dos pontos prevê a paralisação das obras de transposição por dois meses.“Uma das propostas que surgiram na reunião e serão levadas para os dois lados é a paralisação dos trabalhos por dois meses e a realização de debates públicos nesse período para explicar melhor para a população o que significa a obra do São Francisco”, explicou o chefe de Gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho.Numa entrevista coletiva após o encontro, que terminou por volta da 0h de hoje (19), os representantes do governo e da CNBB explicaram que há possibilidade de acordo em seis das oito condições listadas por dom Cappio em documento para o fim da greve de fome.Entre os pontos de convergência, estão a implementação de 530 obras previstas pela Agência Nacional de Águas (ANA) para equilibrar o abastecimento hídrico no Nordeste e a elaboração de um plano de desenvolvimento socioambiental sustentável para todo o semi-árido brasileiro.Os dois pontos em que não houve acordo são a suspensão por tempo indeterminado das obras de transposição, com a retirada imediata das tropas do Exército, e a redução de 28 para 9 metros cúbicos por segundo do volume de água desviado para o oeste de Pernambuco e a Paraíba, áreas com maior carência de água.Representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no encontro, Roberto Malvezi afirmou que a entidade levará a proposta aos movimentos sociais, mas não quis adiantar nenhuma posição. “O que a gente se comprometeu foi buscar o esforço máximo para se encontrar uma saída”, explicou.O secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, elogiou o caráter técnico do encontro e afirmou que as discussões continuarão, independentemente da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a liminar do Tribunal Regional Federal da (TRF) 1ª Região que suspendeu as obras de transposição no último dia 11. “Gostei do encontro. Foi a primeira reunião mais técnica”, ressaltou.Dom Dimas alegou ainda que a greve de fome de dom Cappio não significa um gesto contra a população do interior do Nordeste que sofre com a seca. “É importante esclarecer que dom Cappio não é contra que a água chegue à população. Nossa prioridade é o ser humano. Está bem claro que os oito pontos levantados por dom Cappio têm como foco a melhoria da vida na região”, rebateu.A reunião, na sede nacional da CNBB em Brasília, começou às 21h de ontem (18), com a chegada de Gilberto Carvalho. Por volta das 21h30, chegaram dois representantes do Ministério da Integração Nacional com dados técnicos sobre o Rio São Francisco e o projeto de transposição.