Questões sociais e de desenvolvimento se chocam no debate sobre exploração de petróleo no Acre

20/10/2007 - 9h51

Alessandra Bastos e João Porto
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - Aextração de petróleo e gás natural naregião do Rio Juruá, no Acre, está longe de ser um consenso na região. Enquantoo governo e alguns deputados apontam a oportunidade dedesenvolvimento com geração deemprego e renda, moradores e organizações da sociedade civil se preocupam compossíveis danos ambientais e, principalmente, o deslocamento de populaçõestradicionais.“Elas[populações] serão diretamente afetadas e não sabemos ainda paraonde serão levadas e como se dará a reparaçãoa essas famílias”, diz a coordenadorado Grupode Trabalho Amazônico (GTA) no Acre, Joci Aguiar.Naregião do Juruá, há 12 comunidadesindígenas de várias etnias. A Constituiçãonão permite sondagem para verificar a existênciade petróleo em áreas indígenas, mas existem noCongresso propostas para regulamentar tais atividades.Deacordo com o coordenador do Conselho Indigenista Missionário(Cimi) no Acre, Lindomar Padilha, os índios acreanos sãocontrários a essas propostas parlamentares. “Eles soltaramuma nota, no início do ano, contra a exploraçãode petróleo porque não acreditam que a renda geradapelos prováveis royalties do petróleo compensemos danos”.Alémdo documento, diz ele, há “toda consciência de que não épossível mais a humanidade usar combustíveis de origemfóssil em uma sociedade moderna porque eles emitem umaquantidade imensa de gases poluentes na atmosfera e está aío problema do aquecimento global”.Padilha diz que a comunidade indígena local discorda "totalmente" da idéia"por causa da experiência trágica quetemos em Coari”, conta. Segundo ele, a iniciativa de explorar combustíveis fósseis na cidade amazonense causou vários danosambientais. “Os dutos que tiveram de construir são como umaestrada aberta no meio da mata, que depois não pode serreflorestada porque embaixo existem os tubos condutores”.Já o deputado federal MarceloSerafim (PSB-AM) prefere lembrar que a experiência em Coari “rendeu à prefeitura, só no anopassado, R$ 43 milhões”. Segundoele, “o argumento de que isso poderá trazer danosecológicos não procede. Temos em Coari uma riquezaextraordinária que hoje se encontra desenvolvida e prósperae isso tem sido fundamental para o estado do Amazonas”.Ageração de empregos, segundo Lindomar Padilha, nãobeneficiou a comunidade indígena de Coari.Em um primeiro momento, diz, os índios trabalharam na aberturade clareiras, "o que não precisa de profissionais muitoqualificados”. Depois, “é exigido mão-de-obraqualificada, como um soldador ou um operador de máquinas. Aí,a mão-de-obra local já não serve mais e édispensada”. Além disso, segundoele, a contratação de profissionais de fora fez aumentar a exploração sexual.Leia mais sobre o assunto.