CNPq oferece bolsa para pesquisa sobre aborto e gravidez precoce

20/10/2007 - 18h32

Hugo Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O governo federal planejainvestir R$ 6 milhões em pesquisasinéditas sobre aborto e gravidez na adolescência, com verba do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq), órgão ligado ao Ministérioda Ciência e Tecnologia. A maior parte do valor seráutilizada em bolsas de estudo para pesquisadores, com o intuito de poder apontar, em até três anos, soluçõespara o combate desses problemas de saúde pública. Osestudos relacionados ao aborto devem indicar, entre outros aspectos,a taxa de mortalidade nas interrupções intencionais dasgestações, a avaliação dos métodosutilizados e as condições sociais e culturais de quemrecorre a esse procedimento, acredita a coordenadora geral doPrograma de Pesquisas em Saúde do CNPq, Raquel Coelho. Os levantamentos, diz, devem ser criteriosos para respeitar os limiteslegais e o sigilo de quem colaborar. “Anossa preocupação é manter a relaçãoprivilegiada entre médicos e pacientes que garante sigilo àsvítimas de procedimentos mal sucedidos, mesmo sendo o abortoilegal. Caso isso não ocorra, mulheres deixarão derecorrer ao serviço médico e não participarãodas pesquisas. Nós solicitamos que as propostas de pesquisaincluam quais serão os procedimentos legais adotados paraproteger os indivíduos”, explica a coordenadora. Dados extra-oficiais indicam que, em 2006, maisde 230 mil mulheres foram atendidas em postos de saúde ehospitais públicos devido a complicações emabortos induzidos. Estima-se que essesatendimentos podem ter custado R$ 33,7 milhões ao Ministérioda Saúde. Para a coordenadora de Fomento à Pesquisa do ministério, Margareth Martins, números maisprecisos ajudarão a poupar recursos públicos. “OSistema Único de Saúde, por essas situações [aborto e gravidez na adolescência], acaba sendo muito impactadono orçamento. Essas questões poderiam serprevenidas se nós tivéssemos ciência de como issotem efetivamente acontecido”. Asexigências para as pesquisas sobre gravidez na adolescênciaenvolvem prevenção à gestaçãoindesejada, atenção ao início do ciclo defertilidade, complicações da gravidez e o próprioaborto. Segundo a coordenadora do Ministério da Saúde,os estudos vão contribuir para esclarecer aspectos poucoexplorados. “Osdados sobres as complicações da gravidez naadolescência ainda são desconhecidos. Muito do que setem [de informação], mesmo com alguma literatura, nãoé científico. Os estudos podem certamente apontar dadosde que ainda não se tem conhecimento”, acredita. Averba total a ser utilizada nas pesquisas já estágarantida e vai ser repassada em partes iguais pelos ministériosda Saúde e de Ciência e Tecnologia – R$ 3 milhõescada. Após a liberação do dinheiro, osprojetos selecionados deverão ser concluídos em até36 meses. Margareth Martins diz que a iniciativa é uma“aposta” na comunidade científica brasileira. “Nóstemos uma comunidade científica forte, mas que precisa deestímulo para produzir. Solicitamos que os pesquisadoresapresentem nas conclusões dos trabalhos a aplicabilidade queos resultados terão para o sistema de saúde”. Oscoordenadores das pesquisas serão escolhidos por meio deseleção prevista em edital já publicado peloCNPq. Para concorrer a uma das bolsas, que podem chegar a R$ 200 mil, os candidatos precisam ter doutorado, vínculo comalguma instituição de ensino superior ou de pesquisa eapresentar um pré-projeto. Pesquisadores ligados a entidadessediadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste receberão 30% do valor total investido, desde que tenham aqualificação necessária. As inscriçõesvão até o dia 11 de novembro. O edital completo estádisponível no site www.cnpq.br/bolsas/index.htm.