Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Palmeiras do Javari (AM) - Paraas comunidades que vivem próximas aos pelotões militares de fronteira,a presença do governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), junto coma comitiva que acompanha a visita do ministro da Defesa, Nelson Jobim, àsbases do Comando Militar da Amazônia (CMA) serviu para reivindicar melhorias como o fornecimento de energia elétrica, a instalação ou ampliação de postos de saúde.
Aconteceuem Maturacá, em Querari e em Vila Bittencourt. Nessa segunda-feira(15), durante a passagem da comitiva pelo 8º Batalhão de Infantaria deSelva, em Palmeiras do Javari, localidade isolada na selva, nafronteira com o Peru, o missionário indigenista RicardoLopes Dias entregou ao governador uma lista com pedidos dos Mayoruna,que vivem em quatro aldeias próximas ao pelotão.
"Solicitamosque, através do programa Luz para Todos, a rede de energia elétrica quechega a Palmeiras do Javari seja ampliada até Cruzeirinho", explicouDias, referindo-se à vila onde, segundo ele, vivem cerca de 80 índios.
Ocorreque a própria Palmeiras do Javari enfrenta adversidades. "Atualmente,estamos com problemas na manutenção dos geradores. Em relação ao óleodiesel, a dificuldade é por causa da época da seca, que impossibilitaque as balsas que vêm de Manaus cheguem aqui", diz Nelson Rodrigues,gerente da unidade da Companhia Energética do Amazonas (Ceam) local,empresa responsável por fornecer energia elétrica.
Outrareclamação dos indígenas que moram no local diz respeito à obtenção dedocumentos. "Aqui, as pessoas não têm nem títulos de eleitor nemregistro de nascimento. Também estamos solicitando isso para que elespossam, de fato, ser considerados cidadãos brasileiros".
Segundoo missionário, boa parte dos Mayoruna da região opta por morar próximoao pelotão para assim se beneficiar de serviços como luz elétrica e doatendimento de saúde. Segundo o CMA, o pelotão mantém uma equipe na qual um médico, um dentista e um farmacêutico atendem também as comunidadesvizinhas.
Diasafirmou que quase não há contato entre a comunidade e a Funai. "A coisanão tem funcionado muito bem. O que estamos esperando da Funai é maisatenção à nossas reivindicações. E que eles tenham mais projetos. Nãoexiste, por exemplo, um antropólogo ou lingüista que possa estabeleceruma gramática da língua mayoruna para que as crianças possam seralfabetizadas primeiramente nela, depois no português".
Vivendohá dez anos no local, o missionário afirma que a Funasa, através daSucam, visita a região semestralmente a fim de apoiar o controle depragas como o mosquito transmissor da malária. Ainda assim, segundoele, a presença das Forças Armadas "é a alma de Palmeiras". "Nodia-a-dia, quem tem suprido nossas necessidades é o Exército, quemantém um médico, um dentista e um farmacêutico no pelotão, além daestrutura para realizar os exames de malária".
Outraqueixa diz respeito à Escola Estadual Marechal Castelo Branco, ondeestudam cerca de 130 alunos do ensino fundamental e médio. "Asituação da escola é um descaso. A obra foi aprovada pelo governoestadual, creio que a verba chegou até o município, que contratou aConstrutora Pacon. A empresa, além de deixar a obra inacabada, usoumaterial de qualidade ruim. Nossos filhos estão correndo risco porcausa dos fios expostos".
Assalas não têm vidros, telas, nem ventiladores. Segundo o própriodiretor da escola, Raimundo Cruz, desde 1993, desde que o teto do antigoprédio desabou e a estrutura da unidade de ensino teve de ser demolidapor estar comprometida, os alunos não têm um local adequado paraestudar.
Cruz disse que em 2003, o governo do estado liberou verbas paraque a prefeitura concluísse a obra, mas a empresa contratada abandonouo serviço antes do término. "A escola está inacabada e desde 2005 aobra está parada, o que afeta toda a comunidade. Sem estrutura parareceber os alunos, há muita desistência. As famílias viajam paraprocurar uma escola melhor".
Outro problema, de acordo com o diretor, é que o Ministério da Educação ainda não enviou os livros didáticos para este ano. Ele disse que a escola dispõe apenas de livros de literatura, distribuídos pelo governo estadual.
Segundoo governador, diante das dificuldades de acesso e transporte, o maiorimpedimento à conclusão da escola é a "logística". Por isso ele pediuajuda para o Exército. "Temos um convênio com a Prefeitura de Atalaiado Norte para a construção disso aqui. Tem três anos que nãoconseguimos concluir e estamos agora tentando com a ajuda do Exército.Finalmente, foi autorizada uma parceria".
Ogovernador disse que a conclusão da obra vai depender de váriosfatores. Já o responsável pelo CMA, general Augusto Heleno Pereira,afirmou que apesar do término do serviço depender de "condicionantesimponderáveis" como o clima e a disponibilidade de aviões militares,"com vontade a gente faz".