Gláucia Gomes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Brasil precisa participar do crescimento econômico da África com investimentos que reforcem a confiança do país no continente. A avaliação é do historiador e professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Flávio Saraiva.Para o especialista, a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a quatro países africanos, nesta semana, representa um gesto importante para criar confiança política em relação ao crescimento econômico do continente. “O Brasil precisa estar ao lado da África, assim como estão as grandes potências”, ressalta o professor.Na avaliação de Saraiva, o potencial de investimentos brasileiros no continente africano é amplo. Além de projetos de infra-estrutura e de exploração do biodiesel, o país, diz ele, pode contribuir no combate à aids e às pragas das plantações de mandioca, produto muito consumido pelos africanos.Segundo o professor, o desenvolvimento econômico da África tem se manifestado de diversas formas. Ele ressalta que, nos últimos cinco anos, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos países africanos ficou em torno de 5% a 6% ao ano, em níveis superiores aos do Brasil.Saraiva afirma ainda que a África passa por um processo de renascimento e tem elementos que atraem o interesse dos investidores globalizados. “Há uma disputa internacional por recursos minerais e, nesse sentido, o continente é abundante em alguns minérios e tem uma base petrolífera importante”, destaca.Para ele, a democratização experimentada por vários países e a superação de grandes conflitos regionais criam um cenário favorável à expansão dos investimentos estrangeiros no continente. “Essa é a última área do planeta que se incorpora à chamada comunidade internacional”, salienta.Com a presença cada vez mais forte da China, dos Estados Unidos e de países europeus, principalmente a França e a Inglaterra, na África, o professor acredita que a atuação do Brasil no continente é estratégica. Segundo Saraiva, a união com os países africanos pode ser proveitosa para atingir os objetivos na política internacional. “O Brasil, que tem uma formação africana, poderá encontrar um diálogo novo, moderno e bastante importante para alcançar seus interesses”, explica.Saraiva diz ainda que o passado de escravidão dos negros africanos não representará entrave para as relações entre o Brasil e o continente. “A África mudou muito e está olhando mais para a frente e menos para trás”, avalia. O professor, especialista em história africana, afirma que a definição de culpados pelo tráfico de seres humanos é um processo complexo. “Existe também uma responsabilidade da África nesse cenário, já que as elites africanas comandaram o tráfico de escravos não só para a América, mas também para os países árabes e o Irã”, acrescenta.