Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A já competitiva produçãobrasileira de etanol pode ganhar novo impulso a partir de umaparceria entre o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e adinamarquesa Novozymes, líder mundial na produçãode enzimas industriais. A assinatura do acordo está marcada para esta semana durante avisita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos paísesnórdicos e visa à cooperação paratransformação do bagaço de cana em etanol.
OBrasil produz etanol a partir do caldo da cana e estudos apontam queo aproveitamento do bagaço e da palha poderiam elevar aprodução em 40% sem ampliação da áreaplantada.Os países do norte europeu demonstraminteresse crescente em fontes renováveis de energia. E atémesmo nações auto-suficientes em energia, como Noruegae Dinamarca, apostam em parcerias com o Brasil – pioneiro naprodução de biocombustíveis. “Há umaárea grande de cooperação não sóna exportação do etanol, mas também na áreade cooperação tecnológica para produçãode etanol de segunda geração”, avalia Rodrigo deAzeredo Santos, chefe da Divisão de Programas de Promoção Comercial do Itamaraty.Os combustíveis fósseis são aprincipal fonte emissora de gases de efeito estufa, o que levou aUnião Européia a fixar duas metas importantes:adicionar 5,7% de etanol à gasolina até 2010 esubstituir por energias renováveis 10% de todo o combustívelutilizado até 2020 – hoje, a participação éde apenas 1%. As metas são ainda mais rigorosas em alguns dospaíses que serão visitados pelo presidente Lula de hoje (10) a sexta-feira (14). A Dinamarca, por exemplo - que tem cerca de 20plataformas de exploração de petróleo e gásno Mar do Norte e é auto-suficiente desde 1997 - quersubstituir 33% da energia fóssil por energias renováveisaté 2015. O país já investe em energia eólica e quer desenvolver parceria com o Brasil na áreade biocombustíveis, segundo a embaixadora Maria EdileuzaFontenele Reis, chefe do Departamento da Europa do Itamaraty, “Elestêm muito interesse em cooperar com o Brasil nesta áreae há bastante campo para associação”, afirma. Além da parceria entre CTC e Novozymes,Brasil e Dinamarca devem assinar acordopara troca de experiências e incentivo à pesquisaconjunta na área de energias renováveis. “A Dinamarcatem interesse em desenvolver, com o Brasil, a produçãode etanol de segunda geração a partir de bagaçode cana, já há uma cooperação iniciadanesse sentido”, revela a embaixadora.Outro país que estabeleceu metaspara redução de emissão de gases de efeitoestufa é a Suécia. O governo sueco determinou que até2020 todos os automóveis em circulação no paísutilizem combustíveis renováveis. O país possuia maior frota de carros flexfuel da Europa e defende a adoção,pela União Européia, de tarifa zero para importaçãode etanol. Entre os quatro países que serão visitadospelo presidente Lula, é o que mais importa etanol brasileiro.“Eles já produzem etanol a partir de trigo e cevada, masconsideram o etanol brasileiro, produzido a partir da cana de açúcar,mais eficiente em todos os sentidos”, explica Maria Edileuza. As perspectivas vão além do aumentodas vendas brasileiras de etanol. Brasil e Suécia pretendempromover, em parceria, a produção de biocombustíveisem terceiros países. Acordo nesse sentido será assinadodurante a visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula daSilva ao país. O documento que será firmado entre osdois países visa, ainda, a ampliação do mercadointernacional de biocombustíveis e cooperação napadronização do etanol. “Temos uma cooperaçãomuito promissora na área de biocombustíveis”, avalia a embaixadora.Com a Finlândia, o governo brasileiro deveassinar memorando de entendimento na área de mecanismos dedesenvolvimento limpo do Protocolo de Quioto. O acordo, ainda emnegociação, visa a facilitar a negociaçãode créditos de carbono, a cooperação nadisseminação de fontes limpas de energia. Em nívelempresarial, a embaixadora informa que já háentendimentos entre a Petrobras e Neste Oil na área debioenergia. Também há perspectivas futuras de produção,no Brasil, de biodiesel de celulose. Recentemente, a Neste Oil e asueco-finlandesa Stora Enso anunciaram a construção deuma usina experimental, na Finlândia, para produçãode biodiesel a partir de matéria celulósica atualmentedescartada na exploração industrial de florestas, comolascas, tocos e árvores pequenas. Há projetos de novasusinas na Finlândia e no exterior – de acordo com oDepartamento de Promoção Comercial do Itamaraty, aChina e o Brasil são apontados pela Stora Enso comolocalidades ideais para tais usinas.As empresas norueguesas também estãode olho no potencial brasileiro. Em março deste ano, um grupode investidores noruegueses, entre eles a exploradora de petróleoe gás natural Norse Energy, firmou parceria com o grupoAlbertina, de Sertãozinho (SP), para expandir os negóciosnas áreas de produção de açúcar eálcool no Brasil. A associação deu origem àempresa Biofuel AS, que tem o controle acionário da DestilariaParanapanema, em Presidente Prudente (SP), e pretende investir US$ 240milhões na construção de nova unidade deprodução na mesma região.De acordo com o Itamaraty, durante a visita dopresidente Lula à Noruega é possível que aPetrobras e a petrolífera StatOil firmem parceria na áreade biocombustíveis – as duas empresas já atuam emconjunto na área de prospecção nos dois países.Não está prevista assinatura de acordo sobre fonteslimpas de energia entre os governos brasileiro e norueguês, masa embaixadora Maria Edileuza assegura que há interesse naárea. “É um país mais do que auto-suficienteem energia, mas se preocupa muito em desenvolver, em parceria conosco,a área de biocombustíveis à luz, sobretudo, da reduçãoda emissão de gases de efeito estufa”, afirma. A Noruega éo terceiro maior exportador de petróleo do mundo, atrásapenas da Arábia Saudita e da Rússia. É o únicodos quatro países que serão visitados pelo presidenteLula que não é membro pleno da União Européiae, portanto, não está obrigado às metas deadição de etanol à gasolina e substituiçãode combustíveis fósseis por energias renováveis.