Entrevista 2 - Solução para melhorar área ambiental da ONU não é clara, diz Steiner

10/09/2007 - 17h42

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Nesta segunda parte daentrevista à Agência Brasil, o diretor-executivodo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente(Pnuma), Achim Steiner, comenta outro assunto que se destacou naReunião Ministerial sobre Meio Ambiente e DesenvolvimentoSustentável: a criação de um novo organismointernacional para tratar das questões ambientais naOrganização das Nações Unidas (ONU).Há paísesque pedem a substituição do Pnuma por outro organismo,e outros que sugerem seu fortalecimento. No evento da semana passada,a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, apresentou a propostabrasileira, que, segundo o ministério, é intermediária.Para o diretor do programa da ONU, a necessidade de mudança éclara, mas a solução não.Achim Steinerelogia o trabalho brasileiro para reduzir o desmatamento daAmazônia, mas alerta: nenhum país está fazendo osuficiente, pois muitas espécies e ecossistemas estãosendo perdidos. No Brasil, o Pnuma atua em pelo menos 30 projetos.Agência Brasil: Émelhor criar um novo organismo junto à ONU para a proteçãoao meio ambiente ou simplesmente reforçar o Pnuma?Achim Steiner: Praticamente todos ospaíses concordam que a arquitetura atual nas NaçõesUnidas para a existência de uma governança ambientalglobal não é mais eficiente para lidar com os grandesproblemas ambientais. Mas o que ainda não está claro équal a melhor maneira de reformar o sistema. Não bastasimplesmente fazer uma nova organização, se ela nãotiver dinheiro ou autoridade política. Mas se essa organizaçãofor o resultado de mais recursos financeiros, maior autoridade emquestões ambientais e maior vontade dos governos em colaborar,então poderá ser um veículo mais eficiente.Agência Brasil: Qual é oorçamento atual do programa da ONU?Steiner: O orçamento doPnuma é de US$ 60 milhões por ano, para as funçõesbásicas, e mais US$ 55 milhões para investir empequenos projetos ao redor do mundo. Isto significa que nóstemos um orçamento muito limitado para todas as tarefasglobais ligadas ao meio ambiente, para ajudar 190 naçõesa lidar com negociações internacionais em tratadosambientais, questões de mudança climática,biodiversidade e degradação de terras. Esse orçamentosignifica que os governos ainda não estão encarandoseriamente o papel do Pnuma.Agência Brasil: Como o Pnuma avalia osesforços do Brasil em lidar com os problemas ambientais?Steiner: Se você olharpela perspectiva ecológica, nenhum país do mundo estáfazendo o suficiente. Nós estamos perdendo espécies edestruindo ecossistemas que não podem ser trazidos de volta.Mas o que eu sinto no Brasil, nos últimos anos, é quehá uma consciência pública maior do que o paísestá perdendo por não proteger o seu meio ambiente maisativamente. No caso da Amazônia, o governo desenvolveu um planointerministerial que se traduziu na redução dodesmatamento, em uma demonstração clara do que osgovernos podem fazer se tiverem vontade política. A habilidadebrasileira em lidar com problemas ambientais é hoje maior doque no passado, institucionalmente e profissionalmente. Mas o debatepúblico ainda deve ser impulsionado mais, pois se as pessoasnas ruas se interessarem pelo assunto, os políticos tambémo farão. E todos os progressos sociais vêm da pressão,do interesse e do debate públicos.Leia também o primeiro trecho da entrevista.