Entrevista 1 - Diretor de programa da ONU pede empenho do Banco Mundial contra aquecimento

10/09/2007 - 17h41

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O diretor executivo doPrograma das Nações Unidas para o Meio Ambiente(Pnuma), Achim Steiner, defende maior participação doBanco Mundial no financiamento de ações contra oaquecimento global. Ele está há pouco mais de um ano àfrente da instituição da ONU que tem a missão deajudar os países a lidar com o problema. Steinertambém opina que as atividades econômicas devem visar aodesenvolvimento sustentável, e lembra que participam do debate público pessoas que ganham dinheiro com astecnologias que vão contra esse objetivo. Ele participou, na semana passada,da Reunião Ministerial sobre Meio Ambiente e DesenvolvimentoSustentável, que reuniu representantes de 22 países nacapital fluminense. Um dos principais assuntos foi como encontrarfontes de financiamento para enfrentar as mudanças climáticas.Formado emeconomia, Achim Steiner conhece bem o Brasil e fala português,pois é alemão e brasileiro. Nasceu em Carazinho,interior do Rio Grande do Sul, e foi para a Alemanha aos 10 de idade.Agência Brasil: Agrande questão sempre foi como angariar recursos para investirno meio ambiente. Desta vez, por causa da ameaça doaquecimento global, há mais chances de se conseguir maisdinheiro com os países?Achim Steiner: Sim. Eucreio que sim. Duas coisas são diferentes hoje. A consciênciado problema do clima e da degradação ambiental émaior do que em 1992, na conferência do Rio [Rio-92]. Ehoje as empresas têm interesse de investir em uma outraprodução, mais sustentável. Se não temosuma solução neste momento é porque os paísesmais industrializados não têm demonstrado vontade definanciar políticas diferentes nos países como Brasil,Índia ou China. Mas têm interesse em cooperar.ABr: Dados da Convençãosobre Mudanças Climáticas das NaçõesUnidas divulgados em agosto apontam que serão necessáriosinvestimentos de cerca de US$ 200 bilhões por ano até2030 para garantir que a temperatura do planeta permaneça nosníveis atuais. Como conseguir esse montante?Steiner: Para o cidadãocomum, US$ 200 bilhões parece muito dinheiro. Mas o furacãoKatrina [que atingiu Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 2005],em apenas dez horas, deu um prejuízo de US$ 81 bilhões.Para a comunidade global, sinceramente, conseguir US$ 200 bilhõesnão é um grande problema. A guerra do Iraque custa issopor ano. Nós precisamos de 0,1% do nosso PIB global para nostornarmos uma economia de baixa emissão de carbono. Entãoo custo não é tão alto, principalmente seobservarmos os benefícios: menos consumo de energia e menospoluição. E nós temos que tomar cuidado nosdebates públicos sobre a questão, pois háinteresses políticos e econômicos contra as mudanças– são as pessoas que estão ganhando dinheiro com astecnologias atuais e do passado.ABr: Os países deveriam criar um imposto ou um fundoespecífico para o meio ambiente?Steiner: Não éapenas o caso de ter financiamento estrangeiro ou de criar impostos.A economia tem que ser ambientalmente mais eficiente. Você devetentar atingir objetivos ambientais usando a economia como aliada. EmCuba, por exemplo, o governo trocou todas as lâmpadasincandescentes por outras mais eficientes. É claro que isto éambientalmente saudável, mas a razão principal foieconomizar eletricidade, pois o país depende de energia degeradores a óleo. Se cada consumidor pagar 3 centavos mais porquilowatt-hora ou comprar lâmpadas mais eficientes ou tiver umcarro menor, é possível chegarmos a um granderesultado. O custo de não se fazer um gerenciamento ambientaleficiente acaba gerando um impacto econômico para os países.ABr: O Banco Mundial podeser um ator importante para levantar recursos?Steiner: O Banco Mundial éuma das instituições-chave que a comunidade mundialpossui para colaborar no financiamento de questõesrelacionadas ao desenvolvimento. Mas o banco tem sido lentoem responder aos desafios das transformaçõesenergéticas para uma economia de baixa emissão decarbono. Até porque ele depende das demandas dos governos poreste tipo de investimento.ABr: A pressão dospaíses ricos sobre os mais pobres pode gerar resultados?Steiner: Os países ricosnão podem pressionar muito, pois a maior responsabilidade nasmudanças climáticas é deles próprios.Eles inclusive reconhecem que têm de mudar seus padrõesde consumo energético e a quantidade de CO2 [dióxidode carbono, um dos principais gases de efeito estufa] lançadona atmosfera. E esta é uma grande mudança de atitude.Quatro anos atrás, a primeira rodada do Tratado de Quiotoprevia cortes muito pequenos. Hoje, em países comoGrã-Bretanha, Alemanha e Japão, já se fala emreduções de até 50% em emissões de CO2nos próximos 20 ou 30 anos. Isto é quase uma terceirarevolução industrial. Nós estamos mudando osfundamentos energéticos da nossa economia moderna. Mas paraque isso aconteça estes países precisam da cooperaçãodas economias em desenvolvimento. Sem China, Índia e os paísesem desenvolvimento, para haver redução de emissõesde CO2, não há solução para as mudançasclimáticas. Isso significa que nós dependemos um dooutro, muito mais hoje, para resolver este problema ambiental global,do que qualquer outra questão na história dahumanidade. Por isso é que o meio ambiente alcançou otopo das agendas internacionais, porque sem consenso, não hásolução, seja você um norte-americano ou europeurico, ou um indiano ou brasileiro pobre. As mudançasclimáticas já estão gerando impacto sobre aspopulações e as economias em toda parte.Leia também o segundo trecho da entrevista.