Juliana Andrade e Marcela Rebelo
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Eros Grau condenou hoje (24), no início da sessão de julgamento da denúncia sobre o mensalão, "desvios" cometidos pela imprensa."A alusão que faço aqui a determinados desvios, bem determinados, evidentemente não pode ser tida como desconsideração ou menosprezo, de minha parte, do papel fundamental desempenhado pela imprensa na democracia. Reporto-me a desvios cuja substancialidade não pode ser negada", afirmou, sem mencionar a que desvios se referia.Ontem (23), o jornal O Globo publicou transcrição de mensagens trocadas pela intranet entre os ministros Ricardo Lewandowski e Carmen Lúcia na sessão de quarta-feira, primeiro do julgamento. O diálogo mostra que ambos discutiam pontos do mérito da denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal. Em determinado trecho, Carmen diz: "O Cupido acaba de afirmar aqui do lado que não vai aceitar nada (ilegível)". A reportagem registra que ao lado dela estava sentado o ministro Eros Grau.Eros Grau ressaltou, em seu pronunciamento, que sua atuação tem sido pautada pela independência. "Aqui devo cumprir o meu dever, preservando minha independência, expressão de atitude firme e serena em face de influências provenientes do sistema social e do governo. Independência que permite ao juiz tomar não apenas decisões contrárias a interesses do governo - quando o exijam a Constituição e a lei - mas também impopulares, que a imprensa e a opinião pública não gostariam que fossem adotadas", afirmou.Para o ministro Marco Aurélio Mello, que também foi citado na conversa entre Carmen Lúcia e Ricardo Lewandowski, não há grupos políticos no Supremo. "Estou aqui há 17 anos, isso nunca houve no Supremo e se depender de mim, do bom combate, isso jamais haverá enquanto eu envergar a toga". Para Mello, o caso das mensagens está encerrado. "O episódio, ao meu ver, de certa de forma junto ao jurisdicionados em geral, junto aos cidadãos, desgasta a instituição, mas está superado. É preciso que a sociedade compreenda que não há grupos no Supremo. É preciso que a sociedade compreenda que cada qual vota de acordo com a formação técnica e humanística possuída, de acordo com a própria consciência, com a compreensão da matéria que logrou implementar", disse Marco Aurélio em entrevista à imprensa depois da sessão.