Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A crise financeira, que afeta atualmente o mercado de ações em todo o mundo, é fruto de especulações no setor imobiliário de segunda linha dos Estados Unidos, mas já resvala para outros segmentos e vai exigir reajustamentos das principais economias, com redução das compras de matérias primas dos países emergentes. A avaliação é da professora de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Maria Beatriz David. Segundo Maria Beatriz, o mercado imobiliário de segunda linha nos Estados Unidos é muito grande e trabalha em cima de expectativas. "Não é real: os investidores supõem o que vai acontecer, e quando todos caminham para a mesma suposição dá-se o efeito manada, com todo mundo correndo para o mesmo lado", disse a professora, em entrevista à Rádio Nacional. Ela ressaltou que era previsível o estouro da bolha de empréstimos arriscados do setor, a qualquer momento, porque muitos compradores não conseguem pagar os compromissos assumidos, e esse segmento de mercado tem peso relevante na economia norte-americana. A professora destacou que não existe registro de tempo tão longo de ventos favoráveis na economia mundial nos últimos anos e disse que isso, por si só, já era prenúncio de crise, embora não se pudesse prever quando.Para a professora, o maior problema é que os Estados Unidos continuam sendo o motor da economia mundial; onde estão os grandes consumidores e devedores, e uma "turbulência forte" como essa resvala também para as grandes economias da Europa e da Ásia; em especial da China. Crises dessa natureza, segundo ela, provocam ajustes de câmbio, de taxas de juros e cortes de despesas públicas.Em uma economia globalizada, acrescentou, isso acaba chegando aos países emergentes -- caso do Brasil, da Argentina, da Índia e de outros -- porque os países ricos reduzem o poder de compra, e com isso caem os preços das mercadorias com cotação internacional, como soja, milho e minérios. Exatamente onde reside a maior força das exportações brasileiras.De acordo com o economista Edgar Pereira, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), não dá, ainda, para dizer a intensidade com que a crise vai afetar o Brasil; até porque "o impacto, por enquanto, é mais no mercado financeiro do que sobre a economia real". Ele ressaltou, contudo, que "a bolha financeira nos ativos imobiliários vai fazer com que preços de ativos e taxas de juros se modifiquem no mundo inteiro".Pereira disse que ainda não dá para arriscar prognósticos sobre a intensidade da crise no movimento real, uma vez que, "por enquanto, o impacto é mais sobre o mercado financeiro do que sobre a economia real". O economista teme crescimento mais lento da economia mundial nos próximos meses e prevê que a queda nos preços das commodities (mercadorias com cotação internacional) "pode afetar os preços internos no dia-a-dia, com mais redução da inflação".