Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Artistas, cantores e cerca de 20 atletas que receberam medalhas nos Jogos Pan-Americanos do Rio participaram hoje (10) dolançamento de uma campanha publicitária do Ministério da Saúde paraconscientizar a sociedade sobre os riscos do consumo excessivo de bebidasalcoólicas.
A campanha, composta três propagandas que vão enfocaro uso cada vez maior de álcool entre adolescentes e a relação direta entre bebidas alcoólicas, violência e acidentes de trânsito, começa a serveiculada amanhã (11) em emissoras de televisão de todo o país.
A atleta Gláucia Heier, de 21 anos, medalha de bronze no nadosincronizado no Pan 2007, lamentou o envolvimento dejovens, cada vez mais cedo, com a bebida e destacou o esporte como um vínculocapaz de contribuir para que eles não se deixem influenciar pelos apelos dasociedade. “Eu aprendi dentro de casa, na família, a ficar longe da bebida e a ir cada vezmais para o lado do esporte, para ser bem sucedida na vida”, disse Gláucia, que falou pelos demais atletas presentes ao lançamento da campanha. ”O que essa campanha está mostrando é que não é só aquelapropaganda colorida, com tudo lindo, quando na verdade, no dia seguinte [ao usoexcessivo de álcool], a pessoa não lembra de nada, talvez nem da diversão queviveu. Então, a gente tem que olhar a realidade, e não a ilusão que o álcooltraz”. O metalúrgico Dil Silva, de 57 anos, morador deRealengo, zona oeste do Rio, é um exemplo dos prejuízos que oconsumo excessivo de álcool pode trazer, levando a situações graves dedependência. Silva conta que tomou o primeiro “pileque” aos 12 anos, porque não conseguiu estudar em um seminário. Daí para a frente,passou a beber em várias situações e a ter um cotidiano tumultuado. “Eu fui cada vez tomando mais. Eu bebia porque meutime perdia; bebia porque meu time ganhava; bebia porque era aniversário. Viviauma falsa felicidade, uma ilusão. E a minha família sofreu muito com isso,porque eu saía de casa na quinta-feira e só voltava no domingo, sem ninguémsaber onde eu estava.Passava a noite na farra e depois dormia no trabalho. Euficava na mão de agiotas, porque pegava dinheiro emprestado pagando 20% de jurosao mês para beber”. Aos 38 anos, casado, depois de ter parado de estudar na quarta série do ensino fundamental e de ter enfrentado por mais de duas décadas umasérie de problemas familiares, ele só decidiu parar de beber, diante da revoltade uma das filhas, que se considerava órfã.Hoje, Dil Silva é voluntário na entidadeAlcoólicos Anônimos, onde encontrou apoio para se livrar da dependência dabebida. Ele se considera feliz, mas recorda com pesar o tempo e asoportunidades perdidas, além do sofrimento causado à família. “Quasedestrui meu casamento; perdi uma carreira militar porque servi ao Exército -fiquei três anos e tive que sair para não ser punido. Dois anos depois de pararde beber, tive um infarto; tive que operar a vesícula, tudo isso causado peloálcool. Na parte material, eu poderia estar muito bem de vida, e não vivendosomente com a aposentadoria”, lamentou Silva.