Pedro Biondi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A soja vai ter uma novaexpansão no Mato Grosso, usando principalmente áreas que já têm ocupaçãohumana. A previsão é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),que registrou safra recorde do grão este ano no país, apesar da redução na área plantada. O estado responde por mais de um quarto da produção nacional.“Temos levantamentosobre aquisição de adubos dizendo que os produtores adquiriram quantidade maiorque na safra anterior”, comenta o supervisor de Estatística Agropecuária doIBGE no estado, Fernando Marques de Figueiredo, em entrevista à AgênciaBrasil. “É cedo para saber quanto vai crescer a produção, mas deve ser no máximo 10%.” O supervisor, que é engenheiro agrônomo, aponta uma recuperação da cotação doproduto na Bolsa de Chicago como compensação, para os exportadores, ao baixo valor do dólar em relação aoreal. Ele prevê que o avanço da sojicultura seconcentrará em áreas colocadas em descanso, locais com produtividade menor oupastagens, ou ainda em substituição a outras lavouras – em geral, arroz. Porisso, conclui, não há um novo risco para o Parque Indígena do Xingu.Para Figueiredo, quandohouver desmatamento, será principalmente de trechos de cerrado, inclusive poruma questão financeira. “Os produtores que normalmente atuam nessas áreas sãoparanaenses e gaúchos, que por tradição preferem derrubar o cerrado, a um customuito menor”, diz. “E estão no vermelho [com prejuízo], são castigadoscom doenças na lavoura e menor cotação há três safras.”É diferente a avaliaçãodo coordenador do Programa Xingu do Instituto Socioambiental (ISA), André Villas-Bôas.Ele diz que o entorno do parque indígena reúne características muito atraentesao agronegócio, que o impulso dos biocombustíveis deve aquecer o mercado deterras na região e que ao menos parte da expansão produtiva será em novoslocais.Fernando Marques deFigueiredo, do IBGE, diz que a a situação ao redor do parque está “meioestabilizada”. “Hoje existem restrições para a derrubada de mata, impostas peloIbama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis] e pela Fema [Fundação Estadual de Meio Ambiente]”,justifica. “Normalmente são os madeireiros que agem primeiro, e depois entramos produtores para terminar a derrubada e implantar a lavoura. Como osmadeireiros estão sendo cerceados em inúmeras irregularidades, está sendoreduzida essa influência no entorno.”O engenheiro agrônomo pondera que pode haver mais ocupação de áreas hojepreservadas mais ao sul do estado, onde está parte dos rios que formam o Xingu.“Lá já está mais aberto, com mais lavoura, a quantidade de pesticidas einseticidas é maior, e eles são carreados para os rios”, comenta. Ele opina quepesquisas a partir de peixes consumidos podem trazer dados esclarecedores.Figueiredo destacatambém a ampliação do plantio de cana-de-açúcar em alguns municípios, mas dizque ela se dá em áreas que já vinham sendo plantadas com soja, num sistema derotação de culturas.