Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Ministério da Saúde quer mobilizar as instituições de ensino de medicina para qualificar, cada vez mais, os alunos para atuar de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Um dos desafios que já foram constatados é a quase inexistência da formação voltada para a área de Medicina e Saúde da Família.Em parceria com o Ministério da Educação, o Ministério da Saúde lançou, há um mês, oPrograma de Educação pelo Trabalho para a Saúde (Pet-Saúde), que criaincentivo financeiro para formar e qualificar equipes de médicos paraque atuem de acordo com o modelo de atenção e os princípios do SUS. O tema foi discutido no seminário internacional "Os Desafios do Ensino da Atenção Básica - Graduação em Medicina", que aconteceu neste final de semana, em Brasília. O secretário de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde do Ministério da Saúde, Francisco Campos adiantou que as faculdades de medicina vão receber incentivo financeiro para os grupos que apresentarem projetos ao Ministério da Saúde, de acordo com o edital previsto para ser publicado em agosto. "O Ministério da Saúde vai dar incentivos financeiros para permitir que elas (as faculdades de medicina) tenham espaço na rede de serviço de saúde, para que saiam do hospital e possam adotar metodologias mais ativas", afirma. De acordo com o secretário, há uma preferência entre os estudantes de medicina de trabalharem em ambientes hospitalares e locais com alta tecnologia. Mas, segundo ele, alguns problemas enfrentados pelas equipes do Programa Saúde da Família (PSF), por exemplo, podem ser mais complexos do que os encontrados na atenção especializada. "O que é mais difícil tratar, fazer uma cardioversão (corrente elétrica aplicada no paciente para interromper uma disritmia) ou enfrentar um paciente que praticou violência contra a família porque bebeu muito e estava desempregado?, exemplifica.A professora aposentada de medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Regina Estella defende a ampliação dos espaços voltados para a atenção básica dentro das universidades e a estruturação da carreira de médico de família dentro do SUS. "A falta de departamentos e núcleos de atenção básica ou de medicina de família e comunidade nas escolas médicas faz com que poucos alunos se identifiquem e desejem ser médicos na atenção primária." Participaram do seminário 38 instituições de ensino superior incorporadas ao Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde), projeto do governo de incentivo às escolas de medicina, odontologia e enfermagem, para que elas tenham um currículo mais baseado nas necessidades da saúde. Também participaram do seminário gestores estaduais e municipais, professores, estudantes, entidades de financiamento de pesquisas, médicos do Saúde da Família e representantes de entidades médicas.