Fiocruz investe em remédios para doenças ignoradas pela indústria farmacêutica

23/07/2007 - 16h09

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ea empresa farmacêutica norte-americana Genzyme firmaram acordode cooperação hoje (23) para pesquisar medicamentospara males considerados negligenciados, como hanseníase,doença de Chagas, malária e tuberculose.Segundoo Ministério da Saúde, mais de 35 milhões depessoas em países em desenvolvimento têm as chamadasdoenças negligenciadas, que não despertam interesse nemsão alvo de investimentos por parte da indústriafarmacêutica por não representarem um mercadolucrativo.O primeiro foco do acordo será a doençade Chagas, que atinge cerca de 6 mil pessoas no Brasil. As duasinstituições já estão trocandoinformações sobre o assunto, segundo o coordenador doCentro de Desenvolvimento Tecnológico da Fiocruz, CarlosMorel, e o próximo passo será o envio de um pesquisadorda fundação ao laboratório da multinacional, emBoston, Estados Unidos, para acompanhar os trabalhos durante seismeses. Os intercâmbios serão baseados em um compromissode confidencialidade recíproca.“A Fiocruz tem umknowhow muito grande sobre os parasitas [transmissores dasdoenças] e a Genzyme, um knowhow muito grande nodesenvolvimento de medicamentos, então essa associaçãovisa exatamente combinar essas capacidades, para desenvolvermedicamentos para doenças negligenciadas que são úteispara o nosso país”, destacou Morel.Ele informou queos conhecimentos brasileiros, como, por exemplo, sobre o mosquitotransmissor da malária, serão empregados pelamultinacional na busca de medicamentos para doenças como atoxoplasmose, registrada no mundo todo, que tem parasita semelhanteao vetor da malária.Segundo Morel, o acordo vai servirpara acelerar testes em andamento na Fiocruz com a droga Megazol,para que possa ser utilizada como alternativa no combate àdoença de Chagas. Ele destacou que, atualmente, sóexistem no mercado dois medicamentos usados para tratar a doença- ambos difíceis de se encontrar e com alto grau de toxicidade- e por enquanto o Megazol não pode ser utilizado por serainda mais tóxico.“Desenvolver drogas novas éum exercício caro, complicado e de longo prazo. Calcula-se quepara colocar uma nova droga no mercado, pode levar de 10 a 15 anos.Mas um dos projetos que temos é adaptar a droga Megazol efazer compostos menos tóxicos. Isso pode ser mais rápido”,disse o coordenador.A expectativa dele é de que numperíodo de três anos, um novo medicamento à basede derivados de Megazol possa ser testado pela Fiocruz em sereshumanos.O acordo assinado hoje prevê que a instituiçãobrasileira ficará isenta de pagamento de royalties (taxascobradas sobre direitos de propriedade intelectual) caso venha aexplorar comercialmente as descobertas no tratamento de doençasnegligenciadas, já que a pesquisa está voltada para apopulação pobre.