Luiza Bandeira
Da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Durante toda a semana, 20 jovens remadores, moradores de comunidades populares de Guadalupe, na zona norte da cidade, ocuparam parte das arquibancadas do Estádio de Remo da Lagoa, para torcer pela equipe brasileira no Pan-Americano. Para os adolescentes, que participam de um projeto de inclusão social no clube Vasco da Gama, aquela era a única oportunidade de assistir a grandes nomes do esporte."Essa competição é muito importante, dá uma motivação para esses meninos. O que eles viam antes eram os atletas do clube e os vídeos que eu trazia, mas essa foi a primeira possibilidade deles de verificar grandes forças do remo ao vivo", disse o treinador e coordenador do projeto, Marcelo Neves dos Santos.Segundo Santos, a idéia de ensinar crianças a praticar o esporte surgiu há cerca de um ano. A princípio, quatro meninos de uma escola pública foram indicados por um amigo para participar das aulas. Hoje, já são 20 jovens, com idade entre 13 e 17 anos, e esse número deve aumentar no ano que vem. Além da prática de remo, o clube oferece aos jovens alimentação, transporte, acomodação e aulas particulares. O treinamento é intenso, e pode chegar a duas sessões por dia, durante seis dias por semana. O treinador informou que alguns alunos já participam de campeonatos estaduais e têm potencial para chegar à seleção brasileira.Ele ressaltou, no entanto, que o principal resultado é a inclusão social. De acordo com Santos, os pais dos jovens atletas dizem que, se não fosse pelo projeto, eles poderiam estar envolvidos com o tráfico de drogas. O treinador destacou que o remo proporciona noções vinculadas ao esporte, como disciplina e caráter. "Eu não tenho certeza de que eles se tornarão grandes atletas, mas posso afirmar que eles vão ser tornar bons cidadãos". O remador Gibran Cunha, que ontem (19) conquistou medalha de prata na categoria oito com timoneiro, afirmou, entretanto, que jovens atletas vindos de comunidades populares têm, sim, possibilidade de promover a necessária renovação na seleção brasileira de remo. Gribran disse que a necessidade de renovação é notória diante do fraco desempenho da equipe, que terminou o Pan com uma medalha de prata e duas de bronza. Gibran enfatizou que o remo ainda é pouco praticado no Brasil e que é preciso massificar essa modalidade desportiva no país: "Fazer captação em comunidades carentes é a primeira coisa. É preciso ir às comunidades, em qualquer lugar do Brasil, e dar alguma coisa para as crianças fazerem, porque elas ficam aí, sem perspectiva de vida, e podem acabar entrando no crime. O biótipo do brasileiro é bom para o remo, por que não fazer projetos sociais?", questionou. Já o presidente da Confederação Brasileira de Remo, Rodney Fernandes de Araújo, afirmou que, embora também se preocupe com a revelação de novos talentos, projetos sociais são diferentes do trabalho de esportes de alto rendimento. Para ele, a renovação deve ser feita com um trabalho a partir de colégios: "O projeto social tem que existir - de lá, você pode tirar um ou dois atletas, mas não seria o ideal. Eu acho que você tem que partir de colégios, que tenham a possibilidade de fornecer alunos já numa boa formação familiar, numa boa formação cultural, e aí flui melhor. Senão, você vai ter que fazer as duas coisas e de repente se torna maisdifícil", afirmou.