UnB pune professor suspeito de racismo

05/07/2007 - 15h37

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Roberto da Costa Kramer foi punido administrativamente, por uma Comissão de Sindicância, por referir-se à população negra como "crioulada" durante uma aula. Kramer foi suspenso por 30 dias e teve a pena convertida em pagamento de multa de 50% do valor de seu salário. A Comissão de Sindicância vai enviar o caso ao Ministério Público para que seja investigado se houve crime de racismo.Há cerca de um ano, o professor foi acusado por um grupo de alunos de cometer práticas racistas. De acordo com o estudante Gustavo Amora, o professor chegou a se desculpar por e-mail, mas voltou a repetir as declarações em outra aula, quando disse que o estudante pertenceria à “Klu-Klux-Klan negra”. Algumas das declarações foram gravadas e utilizadas como provas no processo administrativo instalado na universidade.De acordo com a assessoria de imprensa da UnB, a decisão da sindicância é de âmbito administrativo e condenou o professor pela violação de artigos da Lei 8.112, que regulamenta o trabalho dos servidores públicos. O julgamento da acusação de racismo não está sob a a esfera de investigação administrativa, mas diz respeito ao direito penal e deve ser feito pela Justiça.A decisão de suspender o professor e enviar o processo ao MPDFT foi publicada pelo reitor Timothy Mulholland no dia 29 de junho. Kramer ainda pode recorrer administrativamente do julgamento da comissão.Apesar de considerar branda a pena aplicada ao professor, o estudante Gustavo Amora disse que a decisão da universidade deve ser comemorada. ”É a primeira vez que a UnB pune um caso dessa natureza e o julgamento da comissão mostra que as pessoas que diziam que estávamos perseguindo o professor Kramer ou que queríamos aparecer, estavam erradas”. Amora disse que, a partir de agora, vai acompanhar a investigação do Ministério Público.Para o representante do Movimento Brasil Afirmativo, Dojival Vieira, a decisão da universidade “é uma demonstração de que a sociedade está atenta, que as pessoas não mais aceitarão as agressões e humilhações que a população negra vem sofrendo ao longo de anos, significa um basta”.Vieira lembra que a UnB foi a primeira universidade a implantar o sistema de cotas para negros no vestibular e a que a decisão pioneira da comissão de sindicância ao condenar um professor acusado de racismo é mais um passo importante da universidade. “A decisão mostra que a UnB não está disposta a ter suas cátedras transformadas em tribuna de discursos racistas, sejam explícitos ou camuflados”, acrescenta.