Levar a universidade a debate foi maior vitória da ocupação na USP, avalia professor

23/06/2007 - 8h59

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Ter conseguido levar ao debate público a discussão de temas como o acesso à universidade, a autonomia universitária e a democracia interna da universidade brasileira – essa foi a maior vitória do movimento que promoveu a ocupação das dependências da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) por 50 dias.A avaliação é do professor titular de História Contemporânea da instituição, Osvaldo Luis Angel Coggiola, para quem "muito mais do que do que obter uma vitória concreta, como conseguir o café da manhã aos domingos, que também é importante, está imposta a questão do acesso à universidade, a questão da democracia interna da universidade e a questão da autonomia da universidade". Essas três questões básicas, acrescentou, "foram postas em debate público graças a esse movimento”.Na reitoria, minutos antes da desocupação no final da noite de ontem (22), o professor no entanto considerou que a vitória obtida pelo movimento não é suficiente e que novas mobilizações em defesa da democracia dentro da universidade serão necessárias. Para ele, grande parte dos problemas hoje enfrentados dentro da USP, que motivaram o movimento de ocupação, e nas outras universidades paulistas, foi suscitada pela ausência de democracia ou pelo nível restringido de democracia.Segundo Coggiola, isso existe tanto na USP quanto na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Se essas autoridades fossem eleitas democraticamente, não teriam adotado perante os decretos do governador José Serra a atitude passiva e de aceitação que adotaram. Este foi o estopim do movimento”, disse, em referência aos atos publicados no início do ano pelo governo paulista e que, para estudantes e funcionários do movimento de ocupação, prejudicariam a autonomia universitária. A eleição direta para reitor foi uma das bandeiras levantadas pelos estudantes logo após a desocupação do prédio. O professor, que classificou o movimento estudantil como “ousado” e com resultados “extraordinários”, disse que essa foi a maior crise interna da USP nos últimos 25 anos: “E eu espero que esta situação ajude e que seja discutida a importância da universidade pública para o Brasil, não somente no nível das instâncias no estado, mas em toda a sociedade. Essa é a questão que tem de ser discutida. Sem universidade pública, nenhum país vai para lugar nenhum”.A opinião de Coggiola é compartilhada por alunos que participaram diretamente do movimento, como Júlio, que pediu para ser identificado apenas pelo primeiro nome temendo retaliações por parte da universidade. Estudante de graduação da USP, ele se instalou na reitoria durante os 50 dias e disse acreditar que o movimento colocou em questão a estrutura de poder da universidade.“Saímos daqui vitoriosos, porque pautamos a imprensa nacional. Pautamos, aqui, a necessidade de discussão de reformas dos estatutos da universidade, porque essa estrutura de poder é envelhecida, caótica e não corresponde mais às necessidades do pessoal que está aqui hoje”, afirmou. Os estudantes e funcionários desocuparam o prédio da reitoria após acordo com a universidade – a reitoria acatou praticamente todas as reivindicações dos estudantes. Ao saírem eles levavam faixas com dizeres como Desocupamos a reitoria para ocupar a USPVejam o realismo, fizemos o impossível e É só o começo.Em nota, a reitora Suely Vilela ressaltou que a desocupação ocorreu sem violência: “A Universidade, apesar das dificuldades encontradas, conseguiu superar os entraves por meio do diálogo”.