Diferenças no acesso a educação e cultura revelam perfil da desigualdade social

23/06/2007 - 11h31

Renato Brandão
Da Agência Brasil
São Paulo - A educação é o segundo fator para a desigualdade entrericos e pobres no Brasil – perde apenas para o acesso à cultura. A conclusão está no estudo Gasto e Consumo das Famílias Brasileiras Contemporâneas, divulgado nesta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).O trabalho aponta que as famílias mais ricas gastam 30% a mais que as mais pobres e que quanto maior arenda per capita e o nível de escolaridade dos chefes de família, maiora parcela das despesas com educação.Enquanto no biênio 1987/88 as despesas das famílias maisricas brasileiras eram 11,9 vezes superiores às das mais pobres, em2002/03 essa diferença cresceu para 24,5 vezes, sobretudo pelo aumento comgastos nos cursos regulares – de 13,9 para 44,5 vezes.Em 2002/03, os itens que apontam maior desigualdade dedespesas entre as classes sociais brasileiras são os cursos de pós-graduação eos de idiomas, seguidos pelos de ensino superior e médio. De acordo com o estudo, os gastos com cursos depós-graduação são praticamente nulos entre as famílias mais pobres do Brasil.Outro indicador de desigualdade é que as despesas das famílias mais ricas comcursos de idiomas superam em até 800 vezes as das mais pobres.A pesquisa aponta ainda que educação foi o item que mais cresceu no orçamento das famílias: os gastospassaram de 3,16% em 1987/88 para 4,26% em 1995/96, e para 5,50% em2002/03. O aumento dessas despesas de 1987 a 2003 foi maior naregião metropolitana de Goiânia, seguida pelas de São Paulo, Brasília e Belo Horizonte.Os maiores gastos foram com os cursos regulares(pré-escolares, fundamental, médio e superiores), que em 1987/88 representavam44,80% do total despendido com educação e em 2002/03 subiram para 66,47%. Os pesquisadores creditam essa alta à expansão da rede privada de ensino nosúltimos 15 anos. Neste período, só as matrículas no ensino superiorprivado cresceram 174%, enquanto no público aumentaram 79,8%.Para o ensino fundamental e o médio, o percentual de matrículas nasescolas privadas caiu de 12,2% para 9,2% em 1991/02, e de 27% para 12,9%, respectivamente. Segundo o estudo do Ipea, o aumento das mensalidades noperíodo contribuiu para a queda nestes indicadores. No entanto, segundo a economista TatianeMenezes, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e uma daspesquisadoras da obra, as famílias mais ricas do conjunto da sociedadecontinuaram a procurar mais as matrículas de seus filhos nas escolas privadasdo sistema básico (fundamental e médio), em razão da queda na qualidade do ensinopúblico para essas faixas.