Antonio Arrais
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, conclamou hoje (13) empresários brasileiros do setor têxtil a organizarem uma manifestação contra a entrada de produtos têxteis da China. "Vamos marcar um dia e esperar no porto a chegada de um navio com produtos chineses. Quando forem descarregados, nós tocamos fogo em tudo", disse o deputado, sob aplausos de empresários têxteis, que participavam de uma audiência pública na Câmara. A audiência foi promovida por três comissões (Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; Finanças e Tributação; e Relações Exteriores) com o objetivo de discutir problemas do setor têxtil brasileiro.O protesto do deputado foi uma resposta, segundo ele, "à concorrência desleal que a indústria brasileira vem sofrendo dos produtos chineses". Paulo Pereira da Silva reconheceu que as medidas anunciadas ontem (12) pelo governo, que atendem, inclusive, ao setor têxtil, são bem recebidas, mas, como a maioria dos participantes do debate na audiência pública, disse que "elas não foram suficientes".Além da concorrência desleal com os mercados da China e de outros países asiáticos, parlamentares e empresários reclamaram da alta carga tributária que incide sobre a indústria brasileira, a política de juros altos, a valorização do real e o contrabando (que os empresários chamaram de "importabando"), principalmente de produtos chineses, entre outros problemas que dificultam o setor. A audiência pública foi dividida em três partes - na primeira, falaram representantes do governo; na segunda, os empresários; e na terceira,os parlamentares.Ronaldo Lázaro Medina, coordenador geral de Política Tributária da Receita Federal, disse que o órgão vem trabalhando, em conjunto com empresários dos vários setores exportadores, para punir a fraude nas importações e o contrabando, mesmo considerando as dificuldades existentes, com mais de 100 portos de entrada em toda a costa brasileira. De acordo com Medina, essas ações "já levaram ao fechamento de mais de mil empresas responsáveis por fraudes".O presidente do Sindicato das Indústrias de Tecelagens de Americana e Região (Sinditec), Fábio Beretta Rossi, apresentou um quadro comparativo das condições, que considerou desleais entre as empresas brasileiras e chinesas: segundo ele, "enquanto no Brasil o salário de uma costureira é de R$ 5,46 a hora, na China equivale a R$ 1,48, além do fato de que há custos trabalhistas adicionais no Brasil que sequer existem na China, como férias, horas extras, 13º salário. FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e convenção coletiva de trabalho, entre outros".O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), Josué Gomes da Silva, apresentou números para demonstrar a importância do setor no país e cobrar uma melhor atenção do governo.Ele disse que são 30 mil empresas, que geram 1,65 milhão de empregos diretos, exportações (em 2005) de US$ 2,2 bilhões e de US$ 2,1 bilhões em 2006, investimentos (entre 1990 e1999) de US$ 10 bilhões, investimentos (2004-2010) de US$ 8 bilhões e faturamentos de US$ 32,9 bilhões (em 2005) e de US$ 33 bilhões (em 2006), o que representa aproximadamente 17,5% do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria de transformação.A presidente do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco, Eunice Cabral, disse que, em 2006, o setor têxtil tinha mais de dois milhões de empregos, que caíram para 1,5 milhão, num setor em que cerca de 80% são mulheres e que, entre 2006 e 2007, o número de empresas caiu de 30 mil para 25 mil empresas. Segundo ela, as medidas anunciadas ontem pelo governo, e que incluem o setor têxtil, "são positivas, mas não resolvem por completo nosso problema".