Defensores da construção de Angra 3 realizam ato público

13/06/2007 - 19h24

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro -

Uma audiência pública promovida pela Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), hoje, converteu-se em ato de apoio à construção da usina nuclear Angra 3. Organizações ambientalistas que se opõem ao projeto dizem não ter sido convidadas, e os defensores da construção da usina ligados às empresas estatais do setor fizeram coro com representantes de moradores da região de Angra.

Humberto Huhn da Cruz, habitante da comunidade do Parque Perequê, foi um dos participantes. “Devido ao emprego, para nós, da comunidade, é muito importante a construção de Angra 3”, disse ele.

O primeiro-secretário da Associação dos Trabalhadores da Central Nuclear, Antonio Edineide Cordeiro, afirmou que “a energia nuclear é uma das mais limpas  hoje”. Cordeiro lembrou a possibilidade de construção de geradores nucleares no Brasil. “A gente entende que Angra 3 vai abrir o leque de várias possibilidades no Brasil", disse. “Se a gente tivesse Angra 3, 4, 5, com certeza nós teríamos uma tecnologia  mais avançada e estaríamos exportando em vez de importar.”

O presidente da Aben, Francisco Rondinelli, afirmou que a conclusão de Angra 3 vai dar "mais estabilidade ao nosso sistema de suprimentode energia”. Ele disse que a participação da energia nuclear éfundamental para a segurança energética do Brasil. "Se nós queremosretomar o nosso desenvolvimento social e econômico, nós vamos ter queatender o crescimento da demanda energética e  a contribuição danuclear vai ser fundamental.”Rondinelli afirmou ainda que a energia nuclear é"essencialmente limpa". "Nós não geramos nenhum tipo de poluente para omeio ambiente. Os rejeitos radioativos são 100% recolhidos,processados, tratados e isolados do meio ambiente. Na verdade, é aúnica fonte de energia que faz isso.”Segundo o coordenador no Brasil da campanha de energianuclear da organização ambientalista internacional Greenpeace,Guilherme Leonardi, tanto a entidade como a Sociedade Angrense de Proteção Ecológica(Sapê), outro foco de oposição ao projeto de Angra 3, não foram convidadas para o evento organizado pela Aben.

“Nós nos opomos à construção de Angra 3, assim como a dequalquer outra central atômica no país e fora dele. Nós entendemos que é uma energia problemática, sob diversos pontos de vista”, disseLeonardi, à Agência Brasil.

 O Greenpeace também alega que a energia nuclear é cara e que o dinheiro a ser gasto no projeto de Angra 3, mais de R$ 7 bilhões, poderia financiar outras iniciativas. Leonardi afirma que, com R$ 850 milhões, o Programa Nacional de Conservação de Eletricidade (Procel),do governo federal, resultou em uma economia equivalente à produção de quatro usinas do porte de Angra 3 (quatro vezes 1.350 megawatts).Leonardi também lembra o risco permanente de acidentes. “Não existe um destinodefinitivo para esse material [os rejeitos nucleares] que é perigoso tanto para a saúde humana como para o meio ambiente”. Leonardi diz ainda que vários países como Alemanha, Espanhae Suécia vêm abandonando seus programas nucleares para investir em outras fontes de energia mais limpas e seguras.

Para o ambientalista José Rafael Ribeiro, conselheiro da Sapê, o evento de hoje, no Clube de Engenharia, foi uma forma de “lobby” em favor de Angra 3. Segundo ele, as"verdadeiras" audiências públicas sobre o projeto serãopromovidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e RecursosNaturais Renováveis (Ibama) na próxima semana, nos municípiosfluminenses de Angra dos Reis, Parati e Rio Claro. A Sapê estáreivindicando junto ao Ibama que sejam feitas audiências também no Riode Janeiro e São Paulo. O governo federal ainda não se decidiu sobre a implementação do projeto.