Brasil não tem total liberdade de imprensa, diz representante da Unesco

08/05/2007 - 22h20

Gláucia Gomes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O assassinato do jornalista Luiz Carlos BarbonFilho, que denunciou o esquema de aliciamento de menores em PortoFerreira (em São Paulo), é um exemplo, ara o representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny, de que “a liberdade deimprensa não existe completamente no país”.Defourny participou hoje (8) de um encontro na Câmara dos Deputados promovido pela Associação de Jornais (ANJ) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A reunião foi realizada em comemoração ao Dia Mundial de Liberdade de Imprensa, celebrado no dia 3 de maio, e discutiu o diagnóstico e as perspectivas sobre a liberdade de imprensa na América Latina.O presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia, disse em seu discurso de abertura que “há uma união indissolúvel entre a democracia e a imprensa livre”. Para ele, este seminário demonstra “o interesse dos seus representantes [no Congresso] quanto à necessidade de que a imprensa exerça suas funções totalmente livre de ingerências externas”.O vice-presidente da República, José Alencar, realçou que “no momento em que a imprensa não puder levar as informações aos brasileiros ou para pessoas de qualquer país, ela não estará prestando um serviço ao desenvolvimento da democracia, porque todos precisam ser informados. É bom que a imprensa seja livre para que as questões sejam tratadas com absoluta clareza e transparência”.O jornalista Elide Rojas, do jornal El Universal, de Caracas (Venezuela), e o editor Álvaro Sierra, do El Tiempo, de Bogotá (Colômbia) disseram que seus países também sofrem dificuldades em prover a liberdade de imprensa. Assim como no Brasil, há ameaças de morte a jornalistas.O ministro do Supremo Tribunal Federal, Sepúlveda Pertence, disse aliberdade de imprensa tem o “preço” da responsabilidade. Segundo ele, oJudiciário faz o papel “antipático”, já que, às vezes, tem que imporessa responsabilidade por meio de medidas cautelares. “Acho que a totalfalta de liberdade, a total falta de censura deve corresponder osistema de responsabilidade, cada um responderá pelos abusos quecometer”.O presidente a Associação Nacional de Jornais (ANJ), Nelson Sirotsky, disse que o Brasil não precisa de mais legislação sobre o tema, ou qualquer tipo de controle, mas de debate. “A liberdade trás consigo a responsabilidade dos meios de comunicação, dos profissionais de imprensa e da sociedade que recebe esse tipo de informação. A visão da associação que representamos é de que nós não precisamos de novos órgãos, de mais legislação. É preciso promover o debate amplo e aberto com a sociedade brasileira para a consolidação desse direito, que não é só dos meios de comunicação, mas é da cidadania, que é o direito a liberdade de imprensa”.Representantes da Associação Nacional de Jornais (ANJ) entregaram hoje ao ministro da Justiça, Tarso Genro, um manifesto em defesa da liberdade de imprensa. A 2ª Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa teve aparticipação de jornalistas de diversos países e de autoridades dogoverno, do legislativo e do judiciário.