Comissão da Câmara discute resultados da Lei de Biossegurança

08/05/2007 - 20h04

Antonio Arrais
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Comissão deCiência e Tecnologia, Comunicação e Informática(CCTCI) da Câmara dos Deputados realizou hoje (8) um debate demais de três horas sobre os primeiros resultados da aplicaçãoda Lei de Biossegurança, de 2005. O presidente substituto daComissão Técnica Nacional de Biossegurança(CTNBio), Edílson Paiva, admitiu que "a lei custa apegar" e está havendo "uma grande dificuldade para ofuncionamento da CTNBio". Segundo Paiva, a comissão passagrande parte de suas assembléias apenas discutindodeliberações normativas, como a modificaçãodo quorum de decisões.Defensor de tecnologiastransgênicas, Edílson Paiva afirmou que "apósdez anos de uso mundial de Organismos Geneticamente Modificados(OGMs), não existe nenhuma informação que essesprodutos tenham feito qualquer mal a humanos, animais ou ao meioambiente". Paiva enfatizou que o Brasil "perdeu seis anos,ao proibir, até 2002, o cultivo da soja transgênica, eque em quatro anos de produção, o Brasil já éo terceiro produtor mundial de transgênicos". O representante do Ministério de Ciência e Tecnologia, Luiz Antonio Barreto de Castro, afirmou que "ações judiciais têm impedido a liberação de transgênicos para uso comercial", e disse que o acúmulo de processos, anteriores à Lei da Biossegurança, estão abarrotando as pautas de reuniões da CTNBio. Marcus Vinicius Segurado Coelho, representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, disse que a fiscalização sobre transgênicos se concentra no plantio comercial, principalmente no Rio Grande do Sul e Paraná. Ele disse que a área de plantio de soja transgênica mais que dobrou, de três mil hectares, entre 2003 e 2004, para 7,7 mil hectares em 2005. Ele informou, ainda, que a CTNBio só liberou duas culturas geneticamente modificadas: a soja tolerante ao herbicida glifosato e o algodão resistente a insetos.Magda Zanone, representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário, e membro da CTNBio, defendeu uma participação mais ampla da sociedade organizada nas discussões sobre biotecnologia e biossegurança, e contestou a reação da comissão, considerando que a participação de pessoas que não são membro da CTNBio "não representa nenhum atraso".O representante do Ministério do Meio Ambiente, Rubens Nodari, exigiu que a CTNBio defina critérios claros para avaliar e monitorar os possíveis riscos ambientais e à saúde humana que podem decorrer de atividades transgênicas, lembrando que esse cuidado (o princípio da precaução) está previsto na Lei de Biossegurança.O ex-deputado João Alfredo, consultor de políticas públicas da Organização Não-governamental Greenpeace, contestou as garantias dadas aos produtos transgênicos pelo presidente substituto da CTNBio e pelo representante do Ministério de Ciência e Tecnologia, lembrando que "há dez anos seria considerado louco quem falasse em aquecimento global e a situação está aí, com possibilidade de não retorno". Ele disse que os seis anos perdidos, alegados por Edílson Paiva, "certamente se referem aos seis anos que as quatro empresas multinacionais, que exploram o setor, ficaram sem ganhar muito dinheiro".O representante do Ministério da Saúde, Granville Garcia de Oliveira, defendeu o princípio da precaução, que deve conduzir o cientista sempre que está às voltas com novidades científicas. Oliveira lembrou que nos Estados Unidos uma pesquisa para ser considerada concluída leva, no mínimo, 15 anos, com ensaios científicos que chegam a custar US$ 800 milhões - no caso dos Organismos Geneticamente Modificados, segundo ele, as primeiras experiências datam de dez anos atrás.