Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - Líderes yanomami formalizaram hoje (26) denúncia contra uma ONG responsável pela prestação de serviços de saúde para a etnia. Os índios acusam o Instituto Brasileiro pelo Desenvolvimento Sanitário (IBDS) de má administração do orçamento, desvio de recursos e descaso no atendimento em São Gabriel da Cachoeira (AM), na divisa com Roraima, o que está comprometendo, segundo os próprios moradores, a qualidade de vida dos indígenas residentes nas oito aldeias existentes no local.
A acusação foi formalizada hoje pelo presidente da Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (Ayrca), Armindo Melo, durante visita realizada à sede da Coordenação da Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Segundo dados da Ayrca, a área concentra cerca de mil índios yanomami, divididos entre as aldeias Maturacá, Ariabú, União, Nossa Senhora Auxiliadora, Ibambú, Nazaré, Tamaquaré e Maiá.
Melo explicou que o IBDS mantém convênio com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e é responsável pela aplicação dos recursos destinados à saúde indígena na região norte do estado, mas, segundo os documentos a que o líder teve acesso, a aplicação dos recursos encontra-se de maneira duvidosa.
O presidente da Ayrca trouxe a Manaus cópias de notas fiscais e recibos de origem duvidosa, que, segundo ele, colocam em suspeita a aplicação correta dos recursos. O yanomami destacou que representantes das oito aldeias participaram de uma assembléia para discutir o assunto e foram unânimes em exigir a saída do IBDS da localidade.
“Os documentos que eu trouxe para a Coiab em Manaus são cópias de notas fiscais e recibos pagos pelo IBDS que não tem a ver com o trabalho que a instituição deve realizar, como transportes fluviais de objetos pessoais, móveis, eletrodomésticos e compra de óleo diesel sem descrição de origem e destino da embarcação. Foram esses documentos que nos levaram à suspeita de desvio de recursos em benefício de alguém que não são os indígenas da nossa região, isso sem falar dos maus-tratos com os nossos doentes. Diante disso, o que queremos é a saída do IBDS de lá”, diz ele.
Segundo a direção da Coiab em Manaus, os yanomami residentes na fronteira do Amazonas com Roraima sofrem com a falta de medicamentos e com o atendimento precário nos postos de saúde, que não possuem material suficiente para os técnicos e enfermeiros trabalharem. As doenças que mais afetam os yanomami dessa área são malária e tuberculose.
A denúncia formalizada hoje junto à Coiab pode mudar os rumos da administração das verbas da saúde indígena no Norte do Amazonas. De acordo com a representação da Funasa em Roraima, responsável pelos indígenas que vivem na área yanomami, se as denúncias forem confirmadas, o IBDS pode perder o direito de administrar a verba pública de saúde destinada os indígenas na área em questão, e os responsáveis poderão responder à Justiça por crime de peculato (apropriação de dinheiro público em benefício próprio).
De acordo com a Coiab, a denúncia já foi registrada oficialmente na instituição e encaminhada ao Ministério Público Federal, à Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e ao Ministério da Saúde.
A Funasa de Roraima, responsável pelos indígenas do Norte do Amazonas, informou que uma comissão vai apurar a veracidade das informações fornecidas pelos yanomami. A partir da próxima segunda-feira, uma equipe técnica da Funasa estará nas aldeias para constatar a prestação dos serviços de saúde aos indígenas.