Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O esquema de venda de liminares para permitir o funcionamento de casas de bingos e de máquinas caça-níqueis, desmembrado pela Operação Furacão, era dividido em diferentes níveis, conforme o processo divulgado pela juíza titular da 6ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Ana Paula Vieira de Carvalho. No processo, são identificados os líderes da organização, os intermediários, que fariam o pagamento de propinas, e os funcionários públicos, que liberariam informações privilegiadas. Além disso, são apontados juízes e desembargadores, que teriam recebido dinheiro em troca de decisões favoráveis aos membros da organização.O “núcleo duro” da quadrilha, de acordo com o processo, seria composto pelos donos das casas de bingo, que determinariam todos os destinos do grupo. Esse núcleo seria composto por Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães; Aniz Abrahão David, o Anísio e Antônio Petrus Kalil, o Turcão. “Muito embora não transmitam suas decisões diretamente aos operadores do grupo, fazem-no, segundo a versão acusatória, através dos denunciados que compõem a Aberj - Associação de Bingos e Similares do Estado do Rio de Janeiro”, afirma a juíza.O segundo grupo, formado principalmente por esses integrantes da Aberj e por advogados, que teriam a missão de atuar como operadores das decisões tomados pelo “núcleo duro” da organização, mas também se beneficiava com o esquema de corrupção, além de financiarem o esquema com dinheiro obtido na exploração de jogos de azar. Dentre eles, estão José Renato Ferreira e Belmiro Martins Ferreira, donos da Betec Games, especializada na importação dos componentes eletrônicos usados nas máquinas de jogos de azar. Também estão nesse grupo os donos do Bingo Icaraí, Licínio Sorares Bastos e Laurentino Freire e o gerente da casa, José Luiz da Costa Rebello. No Bingo Icaraí foram apreendidas máquinas que teriam sido recuperadas por decisões judiciais “compradas”, de acordo com o processo.O secretário-geral da Aberj e sobrinho do Capitão Guimarães, Júlio Guimarães, também aparece como intermediário, bem como os advogados e “lobistas” Jaime Garcia Dias, Evandro da Fonseca, Sérgio Luzio Marques Araújo e Silvério Nery Cabral Jr, genro do desembargador Carreira Alvim. Segundo o processo, cabia a eles operacionalizar os pedidos em juízo sobre as devoluções de máquinas apreendidas, bem como manter as casas de bingo em funcionamento, através de pagamento de propinas a delegados.Na outra ponta, estão os funcionários públicos, como o policial civil Marcos Bretas, que teria a incumbência de fornecer informações privilegiadas ao grupo. Ele também faria o pagamento das propinas a outros policiais e servidores públicos cooptados pelo grupo. “Estes valores, destinados a propina, seriam arrecadados pela Aberj dos bingos associados ou mediante cotização dos empresários beneficiados por ações específicas”.Também estão entre os agentes públicos cooptados os delegados federais Carlos Pereira, Susie Pinheiros Dias de Mattos, Luiz Paulo Dias de Mattos (aposentado) e o agente federal Francisco Martina da Silva. Eles forneceriam informações sobre operações de repressão aos jogos que viriam a ser realizadas pela Justiça ou pela Polícia.