Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Cerca de 500 mil acidentes por ano ocorrem nos ambientes de trabalho em todo o país, sendo que 209 mil vítimas têm entre 16 e 29 anos, afirmou o presidente da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), Remígio Todeschini, após a abertura do debate sobre a saúde do trabalhador hoje (26). O evento faz parte das atividades do Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, comemorado no sábado (28). Segundo o Fundacentro, entre 1999 e 2003 foram registrados 1.875.190 acidentes de trabalho, dos quais 15.293 resultaram em morte e 72.020 em incapacidade permanente.Segundo o professor de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Márcio Pochmann, na década de 1970 a média acidentes de trabalho era de 5 mil por dia. Atualmente ocorrem cerca de 1.400 acidentes diariamente. A queda considerável reflete em parte a atenção e a conscientização sobre a problemática vinculada à doença no trabalho. “Mas nós também precisamos considerar que parte importante da redução dos acidentes de trabalho se deveu justamente ao baixo crescimento da economia”, disse.Pochmann lembrou que na década de 1970 o Brasil tinha uma expansão média anual em torno de 7% e nas últimas duas décadas o crescimento anual tem ficado abaixo de 3%. Na avaliação dele com a perspectiva de crescimento em torno de 5% ao ano com base no que prevê o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), o número de acidentes e mortes no trabalho pode crescer, já que o número de empregados também tende a aumentar.“Nesse sentido é fundamental que o compromisso em torno do crescimento econômico seja perseguido com uma atenção redobrada em torno da questão da saúde envolvendo empresários, trabalhadores e instituições existentes para tornar o crescimento da economia nacional algo realizável, mas que, de certa maneira, não seja envolvido com maior quantidade de mortos e acidentes”.O economista salientou que o compromisso do PAC está direcionado ao crescimento econômico e não tem nenhuma meta relacionada à questão do trabalho e nem aos acidentes e doenças do trabalho. “É necessário que a partir do PAC as instituições como os ministérios da Saúde e do Trabalho que representam o governo nessa área se envolvam em torno do compromisso do crescimento colocando metas de combate aos acidentes”. Dentre desse contexto, o governo, por meio de três ministérios e da Presidência da República, organizou para esta sexta-feira um seminário justamente para discutir esse possível impacto.Pochmann ressaltou ainda que mais de 40% dos acidentes que ocorrem no Brasil envolvem jovens, por isso é fundamental que os programas de treinamento e qualificação de mão-de-obra enfatizem a questão da consciência sobre o risco do trabalho. “Assim como assim a fiscalização e a conscientização tragam para os empresários esse compromisso com relação à expansão do crescimento econômico sem que isso signifique uma maior ampliação dos acidentes que já são bastante significativos no nosso país”, afirmou o economista.