Problema da meia-entrada é excesso de regulamentação e falta de consenso, diz exibidor

23/04/2007 - 11h51

Luciana Valle
Repórter da Rádio Nacional Rio
Brasília - Há cerca de uma semana, os cinemas em todoo país começaram uma campanha com o objetivo de exercer maior controle da meia-entrada de estudantes àssalas de exibição. A iniciativa é da FederaçãoNacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec),depois de constatar que 70% dos freqüentadores de cinemas sãoportadores de carteira de estudante, o lhes dá direito a pagarmeia-entrada. O benefício é estabelecido por leimunicipal ou estadual, e no Rio de Janeiro está mobilizando ossetores artístico, estudantil, dos exibidores e o Legislativoestadual.Para ingressar no cinema, o estudante que exibiruma carteira concedida por instituição não-estudantilserá advertido de que da próxima vez que for ao cinematerá que comprovar vínculo com a escola ou faculdade,através do comprovante de matrícula ou a própriacarteirinha escolar.Para o vice-presidente da Feneec, Luiz Gonzaga, "ogrande problema da meia-entrada está exatamente no excesso deregulamentação e na ausência de consenso entremunicípio, estado e União sobre o assunto”.Ele disse que não há umentendimento, principalmente, no caso dos cinemas e teatros de quesão empresas comerciais e não concessão pública.“O Estado cede a meia-entrada como benefício a uma parcelada população sem dar nenhuma contrapartida ao dono dasala de cinema ou de teatro".O presidente da AssociaçãoBrasileira de Empresários Artísticos (Abeart), RicardoChantilly, afirma que o show, o teatro, o cinema, de qualquermovimento cultural tem um custo: aluguel do espaço, IPTU, som,luz, pagamento de funcionários, impostos e encargosdecorrentes da produção, como passagens aéreas emídia, que são pagos sem desconto nenhum. “Quando nóscedemos o desconto de 50% aos estudantes nós pagamos o impostointeiro".Chantilly argumenta que não existe noBrasil e em nenhum outro lugar no mundo um benefício no qual ogoverno imponha um desconto e não informe o quanto ou como elevai pagar. "Nós somos a favor da meia-entrada, entendemosque essa é uma forma interessante e importante de estimular acultura no Brasil, mas temos que regulamentar um limite de entradapara as pessoas, no caso os idosos e estudantes. Eles nãopodem representar até 80% do faturamento de um espetáculo".Para o representante dos empresáriosartísticos, o governo deveria oferecer uma contrapartida àmeia-entrada, com incentivos fiscais, redução deimpostos ou a criação de uma loteria para financiamentoparcial do benefício concedido aos estudantes e idosos. Com aregulamentação, o preço dos ingressos seriareduzido, baixando inclusive o valor da meia-entrada. "Nósnão faturamos a inteira; nós só vendemos meia. Ainteira espanta o cidadão comum que quer ir ao cinema, aoteatro, a um show", enfatiza.Ricardo Chantilly informa ainda que atualmente opaís tem um número 2,5 maior de carteirinhas estudantisdo que o número de estudantes matriculados no ensino regular -fundamental, médio e superior. "Qualquer pessoa hoje comcomputador faz uma carteirinha pela internet", dispara,referindo-se a promoções existentes em sites deemissoras de rádio popular e de empresas que veiculam a imagemde seu produto ao público jovem.Esse tipo de incentivo às concessõesde carteirinhas de estudantes sem controle administrativo ouinstitucional pode resultar em falsificações, crimepassível de penalidade. "Nós estamos criando,botando na cabeça dos jovens o princípio da idéiade que falsificar um documento vale a pena. Nós estamosfalando de uma coisa muito grave", alerta.