Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O presidente do Programa Internacional da Geosfera-Biosfera(IGBP), Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(Inpe), disse hoje (11) que o governo brasileiro ainda não encontrou a fórmulapara livrar o país dos efeitos negativos da agricultura na emissão de gásmetano. Nobre participou da abertura do 1º Simpósio Brasileiro de MudançasAmbientais Globais, promovido no Rio de Janeiro, pelo Inpe e a AcademiaBrasileira de Ciências.Considerado um dos mais perigosos gases poluentes daatmosfera, o metano é emitido pelo rebanho brasileiro, que é um dos maiores domundo. Segundo informou Nobre, o Brasil tem “o maior rebanho do mundo e a maioremissão de metano vem da agricultura, dos rebanhos”. Ele destacou que cada molécula de metano, potencialmente,tem um efeito estufa maior. “Só que o metano existe na atmosfera em quantidadesmuito menores que o gás carbônico. Hoje, a quantidade de metano naatmosfera é umas 250 vezes menor que o gás carbônico. Então, o efeito de todo ometano na atmosfera para aquecer o planeta é mais ou menos um quarto dogás carbônico. Isso tem que ser levado em conta. O gás carbônico é o principalgás de efeito estufa globalmente”, explicou.Esse fato, segundo o pesquisador, não anula a urgência de sereduzir as fontes de metano. Ele informou que o Brasil tem inúmeros projetospara evitar que o metano gerado pelo lixo chegue à atmosfera. Salientou,porém, que a fonte principal desse gás não são os lixões. “No caso do Brasil, são os bois. E aí a questão é muito maiscomplexa. A ciência precisa avançar muito para entender melhor essasemissões dos bovinos”. É através do arroto, na pré-digestão, que os bovinosemitem gás metano do alimento ingerido.A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estámedindo a emissão de metano pelo gado, com a finalidade de descobrir aquantidade emitida, informou Carlos Nobre. Ele acredita, contudo, que omais importante é saber se há condições de reduzir as emissões dosbovinos. “Essa pesquisa precisa ser feita. Ela é importantemundialmente e, no Brasil, é particularmente importante. O conhecimento sobreos processos de gestão animal indicam que seria até desejável diminuir aemissão de metano dos ruminantes porque o metano tem energia. Se o boi estáexpelindo metano é porque a digestão não conseguiu retirar toda a energia doalimento. Está voltando um gás que ainda tem energia”, constatou.Para o presidente do IGBP, a descoberta do aproveitamentointegral do alimento que o gado come, seja pastagem ou ração, de modo a que osbois não emitam mais metano, tem vantagens potenciais até para a produçãode gado e leite. Ele afirmou, contudo, que esse é um assunto ainda muito poucoexplorado no país.