Rede Brasil defende participação da sociedade civil na definição de critérios para o Banco do Sul

24/02/2007 - 9h29

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Pouco se sabe, até agora, sobre o objetivos do Banco do Sul, anunciado nesta semana pelos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Argentina, Néstor Kirchner. A proposta defendida por Chávez durante a Cúpula do Mercosul, em janeiro passado no Rio, previa uma instituição para financiamento de projetos de desenvolvimento nos países mais pobres da América do Sul.De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, o governo brasileiro ainda não decidiu se vai aderir à nova instituição. Para as organizações não-governamentais brasileiras (ONGs), o que importa, na prática, é a participação da sociedade civil.“Se for uma instituição financeira em que as organizações da sociedade possam participar da elaboração dos critérios de financiamento, nos interessa discutir e avaliar de que forma podemos colaborar, porque poderemos garantir que os financiamentos sejam orientados para sanar dívidas históricas com os pobres da América Latina, em especial aqueles menos favorecidos, que são indígenas, negros, mulheres”, diz Carlos Tautz, secretário-geral da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais, que reúne mais de 80 movimentos sociais, entidades sindicais, institutos de pesquisa e assessoria, associações profissionais e ONGs.Segundo Tautz, a sociedade civil sul-americana precisa discutir, com seus governos, o tipo de desenvolvimento que os povos da América do Sul querem ter e de que forma uma instituição como o Banco do Sul poderia ajudar. “Todos os países da América do Sul padecem de problemas de saneamento e moradia. Uma organização desse tipo deveria se preocupar, prioritariamente , em atender esse tipo de carência, que é uma carência histórica e atinge dezenas de milhões de pessoas na América do Sul como um todo”, exemplifica.Outras frentes de atuação, na opinião de Tautz, deveriam ser a geração de novas fontes de energia renovável e o financiamento de projetos para a racionalização e economia de energia nas grandes indústrias.Por outro lado, a sociedade civil sul-americana não quer o financiamento de fábricas de papel e celulose na região.  “Empresas de papel e celulose exportam praticamente 100% da sua produção para Estados Unidos, Ásia e Europa e deixam na América do Sul apenas degradação social e um ambiental brutal”, denuncia.  “Esse tipo de discussão queremos ter com os governos para criar uma entidade financeira nova. Se não for nestes termos, se for para repetir velhos erros do passado, não nos interessa”, destaca.“Não temos muitas informações, mas o que, de antemão, a gente pode dizer é que, se for mais uma instituição financeira antidemocrática e sem transparência, como são, por exemplo, o Banco Interamericano de Desenvolvimento [BID] e o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], não nos interessa”, afirma.Tais instituições, na opinião do secretário-geral da Rede Brasil não são, efetivamente, bancos de fomento. ”São bancos que financiam apenas grandes corporações, que apenas concentram mais ainda a renda. Banco de fomento, para ter esse nome, precisa entender que cada financiamento seu precisa ter também uma dimensão social e ambiental”, conclui.