Marcos Agostinho
Da Agência Brasil
Brasília - A decisão de pagar mais pelo gás boliviano não abre um precedente para que, em negociações futuras, outros países também lucrem em negociações com o Brasil, na opinião do professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Flávio Saraiva.Para ele, toda negociação no plano internacional apresenta duas dimensões, em que perdas a curto prazo podem representar ganhos futuros.“É claro que essa decisão pode descontentar consumidores de gás e acionistas da Petrobrás, mas isso pode garantir a expansão do capitalismo brasileiro em um prazo de tempo maior”, afirmou Saraiva em entrevista à Rádio Nacional.Na opinião dele, essa expansão pode ocorrer com a internacionalização de empresas brasileiras, o que não é possível sem concessões aos vizinhos mais frágeis. A postura do Brasil, avalia o professor, faz parte de um projeto de ampliar o prestígio externo e o mercado.Saraiva foi enfático ao dizer que o aumento não representou nenhuma surpresa, pois era esperado por todos os analistas que acompanham o comércio de derivados de petróleo no mercado internacional, devido à defasagem no valor pago à Bolívia.Ele comparou a postura brasileira à de países ricos da Europa, como França e Alemanha, em relação a nações menos desenvolvidas do continente. Citou a colaboração com o “renascimento irlandês”, para incluir a Irlanda no “sistema da modernidade européia” na época da consolidação da União Européia, e também para obras de infra-estrutura em Portugal, como uma rodovia construída há 50 anos. “A bela estrada que liga Lisboa à cidade do Porto não tem um centavo do governo português, é uma concessão alemã”.Na visita do presidente boliviano Evo Morales ao Brasil, encerrada ontem (15), ficou decidido que o gás comprado pela Usina Termelétrica Governador Mário Covas, em Cuiabá (MT), será reajustado em quase 300%, o que deve gerar aumento de 0,2% para o consumidor. E que a Petrobras também pagará mais. Neste caso, o percentual de aumento está indefinido. O governo boliviano estima em 8% (US$ 100 milhões, levando-se em conta o total importado no ano passado, US$1,260 bilhão) e o governo brasileiro acha que será no máximo metade disso.