Professor de Lisboa diz que EUA e China pressionaram para que relatório sobre clima fosse menos contundente

02/02/2007 - 16h26

Agência Lusa
Lisboa (Portugal) - O professor da Universidade de Lisboa Filipe DuarteSantos, membro da comissão portuguesa para alterações climáticas, disse hoje (2) que representantes dos governos dos Estados Unidos e da China pressionaram os cientistas reunidos em Paris para que salientassem incertezas sobreo futuro do clima e evitassem alarmismos.Especialistas mundiais em alterações climáticas erepresentantes de vários governos, reunidos em Paris desde segunda-feira (29), anunciaramprevisões sobre o futuro do planeta até o final do século: aquecimento globalem 4 graus, uma alta do nível do mar de até 59 centímetros e agravamento dassecas e das ondas de calor.O relatório traduz a versão oficial dos maioresespecialistas em alterações climáticas, mas traça um cenário abaixo do quepreviam, por exemplo, cientistas que publicaram em dezembro, na revista Natureum trabalho que indicava uma alta do nível do mar que poderia atingir 1,4 metroaté o final do século."Estas conclusões [reveladas hoje em Paris] resultam deum consenso entre os cientistas e os representantes políticos. Sabe-se que osEstados Unidos e a China pressionaram para que fossem salientadas [norelatório] certas incertezas, na tentativa de as pessoas não se alarmarem",afirmou à Agência Lusa Filipe Duarte Santos, professor catedrático doDepartamento de Física da Universidades de Lisboa e professor convidado daUniversidade de Indiana (EUA), Universidade de Munique (Alemanha) eUniversidade de Surrey (Reino Unido).Duarte Santos explicou que o objetivo destas pressões estárelacionado com o fato de esses dois países serem dos maiores consumidores decombustíveis responsáveis pelo aquecimento global e pelos cenários futuros emtermos de alterações climáticas."O problema é complicado, porque os dois países [Chinae Estados Unidos] vão continuar a consumir combustíveis fósseis", comentouFilipe Duarte Santos.O relatório apresentado pelos delegados do PainelIntergovernamental para as Alterações Climática s (IPCC) da ONU baseou-se noconjunto das pesquisas científicas realizadas nos últimos seis anos para atualizare corrigir os dados do relatório anterior, de 2001.O painel científico deverá divulgar nos próximos mesesoutros relatórios sobre o impacto do aquecimento global, as formas de o mitigare um documento final de síntese, que deverá ser aprovado em Valência (Espanha).