Ivan Richard
Da Agência Brasil
Brasília - A realidade dos membros de uma cooperativa de catadores dematerial reciclável no Distrito Federal, que tiveram as casas derrubadas estasemana porque ocupavam uma área pública e sem saneamento básico, não éexclusiva da capital do país. Segundo o consultor para organizações decatadores de materiais recicláveis do Ministério do Desenvolvimento Social eCombate a Fome (MDS), Jorge Artur de Oliveira, em diversas regiões do país oscatadores enfrentam dificuldades. “Um conflito comum nos grandes centros urbanos é a atividadede catação incomodando o trânsito ou mesmo o acúmulo de resíduos em locaisinadequados”. Segundo ele, como a atividade é uma fonte de renda possível paramuitos, “basta ir no lixo para encontrar algo aproveitável comercialmente”,requer a proximidade da fonte geradora dos resíduos.
Oliveira citou um exemplo de boa organização doscatadores o que acontece em Porto Alegre (RS), onde essa realidade é totalmente diferente. O estado criou uma políticaespecífica para os catadores e vem desenvolvendo um trabalho sistemático com acategoria. Por causa disso, o nível de vida, de consumo e as possibilidades doscatadores são ótimas, comparadas com outros locais.
Ele destacou, porém, que isso é resultado de um trabalho sério que tem sido desenvolvido aolongo do tempo. Não foi da noite para o dia. “É importante que não hajainterrupção”. Ele advertiu que mesmo que mudem o mandato, a legislatura, ogovernador, a política para o setor não pode ser alterada.Oliveira explicou que, como são necessários grandes volumespara que se obtenha alguma renda, os catadores também precisam vigiar omaterial, de modo a evitar roubo. “E isso requer políticas públicas nosestados. O Distrito Federal, pelo menos nos últimos dez anos, não contou comqualquer política de Estado que pudesse minimizar os impactos sociais eambientais do não-reaproveitamento do lixo”.Para o consultor do MDS, muitos gestores públicos e tambémuma parcela da sociedade ainda não perceberam a importância de reciclar o lixo.“Acredito que o planeta tem uma necessidade muito grande de diminuir seusresíduos. É um problema sério hoje”. Oliveira lembrou que, em média, cadacidadão no mundo gera cerca de 800 gramas a um quilo de lixo diariamente.“Somos 6,5 bilhões de pessoas no planeta. A atividade docatador liga as pontas de geração e resíduos. Transforma os resíduos em matériaprima novamente. Então essa atividade é de grande interesse social e grandeinteresse ambiental. Portanto, deve ser estimulada”.Oliveira afirmou que o trabalho dos catadores pode ter outrafunção, a conscientização. Ele explica que seria importante que os resíduoschegassem aos catadores já tendo passado por uma triagem na origem, como aseparação entre orgânico e o restante do lixo, por exemplo. E essa poderia serfuma tarefa de cada cidadão.“Ao não misturar os resíduos, os cidadãos começam a observarseu lixo e isso não é comum. As pessoas não gostam de observar seu lixo , comonão gostam de olhar, não conhecem”.Oliveria argumentou que, quando a destinação do lixo setorna uma preocupação, o cidadão tem condições até de mudar alguns hábitos. “Passandoa pensar na destinação do lixo, separando em uma caixa ou outra, as pessoascomeçam a ter chance de criar uma visão crítica sobre seus hábitos de consumo.E isso pode ser um grande instrumento para que possamos minimizar nossa geraçãode resíduos”.