Brasil não vai oferecer redução "unilateral" de tarifas, diz Amorim

01/02/2007 - 20h01

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ao mesmo tempo em que lidera o processo pela retomada das negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) ao lado de Estados Unidos, União Européia e Índia, o Brasil tenta chegar a um acordo com a indústria nacional sobre as concessões que serão feitas para a entrada de produtos industriais no país. Hoje (1º), o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que a posição brasileira está "longe" de uma "liberalização unilateral".O corte nas tarifas para produtos industriais é uma das moedas de troca na mesa da OMC, e os empresários brasileiros estão preocupados com as facilidades que o país possa vir a oferecer em troca de vantagens para exportação de produtos agrícolas.Amorim reconhece que a indústria brasileira pode precisar de compensações para enfrentar a concorrência dos importados, no momento em que o Brasil baixar as tarifas para a entrada de produtos industriais. “Acho que isso é uma coisa que tem que ser considerada”, afirmou, após encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Luxemburgo, Jean Asselborn, em Brasília.O Brasil está disposto a cortar tarifas para a entrada de bens industriais desde que os Estados Unidos reduzam o apoio financeiro concedido pelo governo aos seus agricultores e que a União Européia melhore a oferta de acesso a mercados para produtos agrícolas dos paises em desenvolvimento.O chanceler brasileiro se recusou a falar sobre os percentuais de corte em negociação, afirmou que “não chega nem perto do que estão dizendo por aí de liberalização unilateral”. Também garante que a indústria está sendo consultada. “É um processo permanente”, destacou.   O impacto de um corte nas tarifas varia de acordo com o setor industrial. Cada segmento conta com dois tipos de tarifas: a consolidada, que é aquela autorizada pela OMC, e a aplicada. A tarifa máxima consolidada no Brasil, para a entrada de bens industriais, é de 35%. A tarifa média consolidada é de 30%. Já a tarifa média aplicada é de cerca de 15%.Na prática, o impacto de um corte – seja qual for - depende da tarifa efetivamente aplicada para cada setor industrial. Também depende da negociação em torno das chamadas sensibilidades ou flexibilidades, que são os produtos que não seguirão a regra geral de corte de tarifas.Segundo Amorim, alguns setores da indústria querem negociações setoriais, em vez de aplicação da fórmula geral, porque consideram que têm competitividade. Como exemplo, citou setores de jóias, celulose, pedras, granito. “Isso mostra que temos, também, posições ofensivas na área industrial. Acho que um acordo que favoreça o mercado internacional como um todo vai beneficiar também a nossa indústria”, avaliou.Além de conversar com a indústria nacional, o Brasil pretende negociar com os países parceiros do Mercosul antes de consolidar propostas definitivas na OMC. “Vamos ter que conversar também com nossos amigos do Mercosul, senão não fecha a rodada. É uma combinação de flexibilidades, coeficientes e algumas negociações setoriais”, resumiu.