Álvaro Bufarah
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A falta de segurança no Iraque torna a busca por alimentos ou remédios em Bagdá uma aventura diária. "O procedimento tem de ser rápido, sair de casa, chegar ao supermercado pegar o que precisa e sair com pressa. Mesmo que a distância seja apenas de 100 metros, o melhor é ir de carro" diz o brasileiro Awni Al Deiry, único funcionário da embaixada do Brasil no país.Al Deiry conta que os moradores que restaram na capital iraquiana não podem se afastar mais que uma quadra de suas casas – e um quarteirão é uma área de um 1,5 quilômetro quadrado, onde há apenas um comércio aberto.Segundo o libanês naturalizado brasileiro, "o país não produz nem 1% do que sua população consome, 98% das indústrias iraquianas estão paralisadas e a agricultura não gera alimentos suficientes".Dessa forma, a maioria dos produtos consumidos em Bagdá são importados da Jordânia, Irã, Síria e Egito, entrando pela fronteira norte do país, onde os curdos conseguem manter um sistema de segurança mais eficaz. "Mas para que os produtos cheguem à capital, é necessário pagar por esquemas de segurança a verdadeiras máfias que controlam as estradas", afirma. "Normalmente são aventureiros que correm o risco de buscar comida e outros bens para serem vendidos" diz ele.Segundo o funcionário da embaixada, estas milícias recebem muito dinheiro para garantirem a chegada dos produtos aos comerciantes em Bagdá, o que normalmente encarece em até quatro vezes o preço de qualquer produto.Mas o custo do transporte também é caro. Embora o Iraque tenha a maior reserva petrolífera do mundo, um litro de gasolina fica entre US$ 2 e US$ 5 (cerca de R$ 4 e R$ 10), o que restringe a circulação de carros na cidade.Extermínio de professores impossibilita reestruturar a educação do IraqueProfessores, intelectuais e médicos são assassinados sistematicamente em Bagdá, conta Awni Al Deiry, único funcionário da embaixada do Brasil no país. Após a invasão do Iraque pelas tropas norte-americanas, Al Deiry afirma que contabilizou a morte de 168 professores universitários, 48 acadêmicos, 130 jornalistas e 124 médicos.Segundo ele, a maioria dos pensadores nativos foram mortos ou tiveram de se exilar. Apenas 5% dos intelectuais, estima, resistem e tentam manter suas vidas no país.Al Deiry tem dois filhos que estudam na universidade da capital iraquiana. Segundo conta, a situação no setor de educação se deteriora a cada dia.O filho mais velho cursa pós-graduação em Administração e o irmão está no último ano de Medicina, mas ambos não sabem como vão terminar os cursos em função da falta de estrutura de aulas.O brasileiro supõe que entre 70% a 80% dos alunos das escolas primárias, secundárias e das universidades não freqüentam as aulas pela falta de segurança."Muitas vezes, numa sala que deveria ter 50 ou 60 alunos, apenas cinco aparecem".