Álvaro Bufarah
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - "Todos os dias, entre 60 e 100 cadáveres aparecem nas ruas. Corpos torturados e mutilados são jogados nas calçadas sem que ninguém saiba quem promoveu estes assassinatos. O medo persiste, já que há o toque de recolher e ninguém pode sair de casa no período da noite”.A descrição é do único funcionário da embaixada do Brasil no Iraque, Awni Al Deiry. Segundo ele, “a situação da capital é a pior, pois é onde está ocorrendo uma divisão religiosa violenta. As minorias sunitas em bairros xiitas estão sendo forçadas a deixar suas casas em função dos massacres e o mesmo ocorre em bairros de maioria sunita, onde os xiitas estão sendo mortos para deixarem suas residências”.Al Deiry afirma que os soldados norte-americanos têm uma certa simpatia dos xiitas, pois eles são maioria no governo, que é apoiado pelo governo Bush. Mas os sunitas rechaçam qualquer forma de aproximação."Os sunitas consideram que os xiitas são os gerentes da empresa americana chamada governo" sentencia.Mas os xiitas exilados no exterior fazem coro com os demais iraquianos da resistência contra a ocupação americana. Para o responsável pela embaixada brasileira no Iraque, os sunitas não aceitam a ocupação e estão pedindo para que as autoridades americanas retirem gradativamente seus soldados do país.Ao mesmo tempo, eles têm um grande temor de uma explosão da violência, pois os soldados da polícia do governo (de maioria xiita) passarão a ter de manter a ordem no país além de defenderem as bases norte-americanas e as fronteiras, o que na prática, os sunitas não acreditam que ocorra sem enfrentamentos.Segundo Awni, para os sunitas não há como confiar em uma polícia que tem histórico de violência declarada contra eles. Ele cita o caso de um grupo de homens vestidos com uniformes policiais e com carros oficiais que invadiram o ministério da educação iraquiano e seqüestraram mais de 100 pessoas matando a grande maioria de sunitas e deixando os xiitas ilesos. As autoridades alegam que não eram policiais, mas sim, milicianos caracterizados com intenção de denegrir a imagem da polícia.