Participação das comunidades evitaria roubos na Sudam e Sudene, diz professor

09/01/2007 - 19h45

Monique Maia
da Agência Brasil
Brasília - O economista Ladislau Dowbor defende que as novas superintendências de desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e da Amazônia (Sudam) abram espaço para a participação ativa das comunidades. Isso ajudaria a evitar desvio de verbas, motivo pelo qual ambas foram extintas em 2001.“Quando você faz um colegiado com representação dos grandes proprietários, mas também dos pequenos agricultores, organizações da sociedade civil, instituições de pesquisa econômica e acadêmica, quando você tem uma certa amplitude de interesses representados, ninguém consegue colocar todas as coisas no bolso”, avalia Dowbor, que é professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).Para ele, não basta destinar recursos para uma determinada região. É preciso um “desenvolvimento participativo”. “Projetos de pára-quedas que um governador decide e joga determinados recursos para uma região, isso não funciona. Desenvolvimento que funciona é o participativo, em que as comunidades dos municípios participam ativamente”.O economista vê com bons olhos a recriação dos órgãos, oficializada na semana passada, mas acha imprescindível resgatar iniciativas a nível local. “Antigamente se pensava em pólos de desenvolvimento. Mais recentemente, trabalhou-se com arranjos produtivos locais centrados em setores, que têm proximidade com o conceito de pólos (têxtil, moveleiro etc). Agora, estamos falando mais na articulação dos diversos setores, portanto, o que se chama de desenvolvimento local integrado”.Para a economista e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Tânia Bacelar, a nova Sudene também deve investir em formação de pessoal e redes de tecnologia que ajudem a difundir o conhecimento.“A distância dos níveis de qualificação da população do Nordeste em relação a outras áreas do país é muito grande. Basta dizer que a média de estudo é de 4,4 anos. Em Brasília, por exemplo, é de mais de 7. Então, existem investimentos estruturantes que a Sudene deveria ajudar a patrocinar”, diz Bacelar.De acordo com a professora, os investimentos da antiga Sudene ajudaram a reduzir parte das desigualdades na região. Segundo ela, na época em que a superintendência foi criada, a renda média era um terço da média do país. “Hoje, é um pouco mais de 50%, mas ainda precisa de uma ação forte”.Bacelar também acha que a guerra fiscal entre os estados pode prejudicar a nova Sudene.Na última quinta-feira (4), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou as leis complementares que recriam a Sudam e a Sudene. Os dois órgãos foram extintos em 2001 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, após denúncias de desvio de verba e corrupção.