Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Enquanto o poder público ainda se organiza para garantir a conservação do Aqüífero Guarani (veja reportagem), as ações descoordenadas de exploração desse manancial já põem em risco essa que é uma das maiores reservas subterrâneas de água doce do mundo. A perfuração doméstica, sem o acompanhamento de técnicos e geólogos,compromete a água do aqüífero Guarani, que já está contaminada emvários pontos, segundo alerta o coordenador da empresa Perfuradores, deSanta Catarina, João Ricardo Machiori.O técnico explica que o problema ocorre pelaperfuração feita de forma errada. Ele acredita que o problema éconseqüência da desinformação e não da má intenção. O trabalho daempresa de Machiori consiste em fazer a ligação entre o cliente e empresas deconsultores, fornecedores e perfuradores credenciadas na AssociaçãoBrasileira de Águas Subterrâneas (ABAS) e no Conselho Regional deEngenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea).Machiori diz que já foramdetectadas algumas áreas do Aqüífero Guarani contaminadas. Acontaminação, segundo ele, ocorre “por perfurações sem um técnicopresente e feitas de maneira errada”. Ele explica que a orientação deum geólogo é que determina os locais corretos e controla a utilizaçãode produtos biodegradáveis. “É preciso sempre ter um geólogocredenciado acompanhando a obra”, afirma.O AqüíferoGuarani é o maior reservatório de água subterrânea do mundo. Ele abrange 1,2milhão de quilômetros quadrados. No Brasil, se concentra a maiorparte: 840 mil quilômetros quadrados. Em seguida vêm Argentina (225mil), Paraguai (71,7 mil) e Uruguai (58,5 mil). No território nacional, oreservatório está sob os estados de Mato Grosso do Sul, Rio Grandedo Sul, São Paulo, Paraná, Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina e Mato Grosso.Em novembro, durante a 7ª Reunião do Conselho Superior de Direção deProjeto Aqüífero Guarani, em Curitiba, foi anunciada uma campanha queserá feita, ainda este ano, com a criação de um manual paraconscientizar perfuradores dos perigos da contaminação da água. Emprincípio, a campanha será feita em universidades e instituições. “Existem muitas empresas no Brasil que trabalham semgeólogos e sem autorização do Crea. Elas fazem perfuraçõesresidenciais, de quatro a dez metros. Apenas colocam uma bomba e ousuário residencial pode utilizá-la", relata o técnico. "Mas ele não sabe do perigo quepode encontrar depois por ter perfurado um poço tão raso para obter águapra uso residencial”.Em função desses riscos, Machiori afirmaque uma campanha feita unicamente em universidades e instituições técnicas nãoterá o efeito de conscientização esperado. "É preciso que chegue aosperfuradores domésticos e às empresas não credenciadas”, diz ele.Para o coordenador daempresa, além da campanha, o aumento da fiscalização poderia inibir otrabalho de empresas que não estejam devidamente credenciadas e comconcessão para a perfuração. A outorga de uso é dada pelas secretariasde Meio Ambiente municipais e estaduais ou pelo Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).Segundo o técnico, umdos perigos da perfuração caseira sem orientação é a localização. Fazera perfuração, por exemplo, em uma residência próxima a um posto degasolina, envolve graves riscos. “Geralmente há vazamentos dos tanques de gasolina. Uma fossatem vazamentos. E, numa perfuração rasa, há o risco de a água vir com umalto teor de ferro e coliformes por causa das fossas e da tubulação deesgoto.”Ele conta que a perfuração caseira é feitapor “empresas pequenas, com máquinas de pequeno porte” ou, ainda hoje,“o pessoal perfura de forma artesanal, usando apenas um cano e água. Aágua vai desmanchando a terra e empurrando o cano para baixo. "Fazem pordesinformação”, lamenta ele.