Lúcia Norcio
Repórter da Agência Brasil
Curitiba - O Projeto de Proteção Ambiental eDesenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani,considerado um dos maiores aqüíferos do mundo, deve ficar prontoem 2008, segundo o coordenador nacional e diretor deProjetos de Articulação do Ministério do Meio Ambiente, Júlio TadeuKettelhut. O projeto, que começou a ser elaborado em 1999,passou por diversas fases e está agora na de execução. Conta com umorçamento de US$ 13,4 milhões do Fundo Mundial do MeioAmbiente (GEF) e servirá como base para identificar problemas e propor soluções para a conservação da água domanancial - que cobre uma superfície de quase 1,2 milhão de quilômetros quadrados.“Está sendo todo desenvolvido em conjunto entre os países abrangidos - Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai “, explicaKettelhut.
No Brasil, o Aqüífero Guarani seestende sob os estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina,São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Ele abastece total ou parcialmente mais de 500 cidades brasileiras.Kettelhut avalia a situação da reserva, em geral, como boa, masdiz que é preciso uma conscientização para que todos possam sempredesfrutar do aqüífero. Sobre ele, está instalada uma população estimadaem 29,9 milhões de habitantes.
Estudioso do aqüífero desde a década de70, o pesquisador da Universidade Federal do Paraná Ernani Franciscoda Rosa Filho diz que é urgente a necessidade de se fazer ummapeamento definindo as áreas onde existe água potável eonde não há. “Existem locais onde a água só pode serutilizada para outros fins, como o turismo termal”, diz ele.
As altastemperaturas, de até mais de 30ºC, favorecem o uso em balneários e naagroindústria (para despelar o frango). “O Paraná é o único estadoque já tem um trabalho de mapeamento mais adiantado, e várias outrasiniciativas, como a recuperação das matas ciliares nos pontos derecarga do aqüífero e a fiscalização e monitoramento das áreas deocorrência das reservas subterrâneas", conta ele. "A elaboração doZoneamento Ecológico do Paraná faz parte das ações desenvolvidas paragarantir o uso correto do aqüífero.”
O professor lembra que o uso mais intensivo das águas extraídas do Guarani está concentrado em território brasileiro, com uma maior diversidade de aplicações (abastecimento público, turismo termal, irrigação etc.). Já, nos demais países, o principal uso se baseia no hidrotermalismo com fins recreativos e de hidroterapias. Em Ribeirão Preto (SP), 560 mil habitantes sobrevivem só com as águas do manancial. “Isso demonstra a importância da preservação”, diz ele.
Segundo o professor, testes já mostraram que as águas do aqüífero estão armazenadas há algo entre 10 mil e 50 mil anos. "Se elas têm essa idade, nós estamos minerando a água e não estamos repondo o que está sendo retirado. Tem que haver recarga, sob o risco de se acabar com a reserva dentro de alguns anos", diz ele.
Um alerta à população sobre uma possível “crise da água”, por meio de uma “campanha permanente” de educação ambiental poderá contribuir para evitar a escassez desse recurso num futuro próximo, na opinião de Rosa Filho.
O pesquisador aponta alguns dados: cerca de 70% da superfície da Terra encontra-se coberta pelas águas, num volume de aproximadamente 1.385.984.610 quilômetros cúbicos. Deste total, 97,5% constituem-se de água salgada e apenas 2,5% em água doce, ou seja: 1,351 bilhões de quilômetros cúbicos e 34,6 milhões de quilômetros cúbicos, respectivamente.
Do total do volume de água doce (34,6 milhões de quilômetros cúbicos) do planeta, cerca de 30,2% (10,5 milhões de quilômetros cúbicos) podem ser utilizados para a vida vegetal e animal nas terras emersas, pois 69,8% encontram-se nas calotas polares, geleiras e solos gelados. Dos 10,5 milhões de quilômetros cúbicos de água doce, cerca de 98,7% (10,34 milhões de quilômetros cúbicos), corresponde à parcela de água subterrânea, e apenas 92,2 mil quilômetros cúbicos (0,9%) corresponde ao volume de água doce superficial (rios e lagos), diretamente disponível para as demandas humanas, que corresponde a 0, 008% do total de água no mundo.
O geólogo defende ainda a preservação lembrando que o Aqüífero Guarani representa o verdadeiro agente integrador dos países do Mercosul, pois, acima das questões políticas, econômicas e diplomáticas, o manancial une geograficamente Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.