Estudo aponta concentração de crédito como grande entrave ao desenvolvimento do país

15/12/2006 - 17h17

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A concentração das ofertas de crédito nas regiões Sul e Sudeste do país é um dos maiores entraves ao desenvolvimento da nação como um todo. A constatação faz parte do relatório mundial Arquitetura da Exclusão divulgado hoje (15), no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).Elaborado por mais de 400 organizações da sociedade civil em 60 países, o estudo revela que somente 15% dos brasileiros têm conta bancária. Além disso, dos mais de cinco mil municípios, quase dois mil, principalmente no norte e nordeste, não contam com agências dessas instituições financeiras.Os dados também apontam a desigualdade na oferta de crédito. Em 1991, os municípios do sudeste concentravam 67% dos financiamentos concedidos no país. Em 2003, já respondia por mais de 75%. Na outra ponta, a região nordeste teve sua participação reduzida de 11% para 7% no mesmo período.Para o pesquisador do Ibase Luciano Cerqueira, essa realidade emperra o desenvolvimento do país, que para ele “passa necessariamente pela distribuição do crédito para todos os cantões do Brasil”.Ele explicou que a concentração do crédito gera concentração de renda, de riqueza e de indústrias, já que elas precisam de recursos para investir em produção, equipamentos entre outros.“Se o crédito está concentrado em algum lugar, as empresas se concentram na mesma região, reforçando ainda mais as disparidades. Isso é ruim não só para a economia, mas para as pessoas, porque tendo acesso ao crédito elas podem investir e gerar empregos, pagar suas dívidas e movimentar a economia, qualquer que seja o destino que derem aos recursos adquiridos”, disse.Cerqueira defende uma reformulação do sistema financeiro do país, levando as agências bancárias para todos os municípios, estimulando a tomada de crédito pelos brasileiros e criando vantagens também para que os bancos realizem os empréstimos a juros mais baixos.Para a pequena empresária Ana Paula Lopes, o serviço de crédito que utiliza foi fundamental para abrir uma cafeteria no centro do Rio de Janeiro. “Eu mantenho a loja há um ano utilizando todas as linhas de crédito que o banco me oferece. Sem isso, não conseguiria manter o negócio”, disse ela, que vai tomar novo empréstimo para ampliar o empreendimento no próximo ano.