Spensy Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Movimentos sociais das Américas reunidos emCochabamba, na Bolívia, na semana passada, saudaram como um “importante momentohistórico” a realização da 2a Cúpula da Comunidade Sul-Americana deNações (Casa), na mesma cidade, simultaneamente à Cúpula Social pela Integraçãodos Povos.Os representantes da sociedade civil internacional alertam,porém, que a Casa não pode tornar-se um prolongamento do modelo de livremercado, por isso necessita contar com uma “autêntica participação social”.Na Carta de Cochabamba, documento final da Cúpula Social, osmovimentos reivindicam para si a responsabilidade histórica pela construção doatual quadro político de governos progressistas no continente. “Este momentopolítico que vive a América do Sul oferece uma oportunidade histórica, que nãopode ser desperdiçada, para que se avance rumo a uma verdadeira integraçãosoberana e em benefício dos povos”, afirma o documento.“A Comunidade Sul-Americana de Nações não deve ser umprolongamento do modelo de livre mercado baseado na exportação de produtosbásicos e bens naturais, baseada em um endividamento e em uma desigualdistribuição da riqueza”, alerta o texto. “A criação de uma autêntica Casa nãopode ser um processo que exclua as exigências populares, e para issorequer uma autêntica participação social.”Os movimentos lembram que o atual quadro político supera umafase em que o continente esteve sujeito a um modelo econômico baseado no“fundamentalismo de mercado”, na privatização e na liberalização comercial,tendo como conseqüências o aumento da desigualdade e uma piora geral nascondições de vida das populações do continente.O modelo de integração proposto, ao longo desse período,segundo o documento, expressava-se no processo de criação da Área de LivreComércio das Américas (Alca) e dos Tratados de Livre Comércio (TLCs) com osEstados Unidos. Tais propostas implicavam o abandono de “qualquer perspectiva”de desenvolvimento autônomo.“Os povos do continente fomos protagonistas de uma lutacontra esse modelo, contribuindo decisivamente para deter a Alca e os acordosentre países que privilegiam o comercial e os interesses das multinacionais”,segue o documento. Os novos governos “sensíveis às demandas populares” e que“se distanciam da agenda do governo dos Estados Unidos e das corporações” sãoresultado desse movimento, segundo o documento.A nova integração sul-americana deve basear-se, segundo osmovimentos sociais, na primazia da cooperação sobre a competição, e dosdireitos dos habitantes da região sobre os interesses comerciais, entre outros.O documento também cita a necessidade da incorporação ao processo de valores econceitos como a soberania alimentar, o respeito ao meio ambiente e a promoçãoda paz.Somente na medida em que se mude o modelo de desenvolvimentoe se defenda a soberania das nações será frutífero o esforço de construção daCasa”, segue o texto. “Estamos dispostos a promover o diálogo que conduzaa resultados reais. Manteremos as lutas de resistência que assegurem oprotagonismo do movimento popular no processo de integração, para promover umaverdadeira democracia e bem-estar para nossos povos”, conclui.A Cúpula Social pela Integração dos Povos aconteceu entrequarta e sábado (6 e 9). Os trabalhos incluíram sessões de diálogo comrepresentantes de governos presentes ao encontro oficial da Casa. Pelo Brasil,participaram o secretário-executivo do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, eo Secretário de Planejamento e Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento,Orçamento e Gestão, Ariel Pares.Clique aqui para acessar os documentos referentes aoencontro.