Moçambicanas apresentam na Expo Brasil experiência agrícola modelo

07/12/2006 - 18h15

José Carlos Mattedi
Enviado especial*
Salvador - Um grupo de mulheres desempregadas, analfabetas e sem nenhuma formação técnica decidiu, há 26 anos, em Moçambique, unir-se e criar suas próprias alternativas de geração de emprego e renda. As 250 mulheres criaram sete cooperativas agrícolas. A princípio, o grupo preocupava-se com a subsistência das famílias e, se possível, com um ganho extra. Hoje, a comunidade é composta por 185 cooperativas com cerca de seis mil membros. Detalhe: 95% são mulheres, todas camponesas. A União Geral das Cooperativas Agropecuárias de Maputo (UGC), criada na capital de Moçambique em 1980, foi apresentada na tarde de hoje (7), durante o Fórum do Desenvolvimento Local em Língua Portuguesa, uma das atividades da 5ª Expo Brasil, em Salvador. O fórum reúne, hoje e amanhã (7 e 8), representantes de Portugal, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Brasil para que possam compartilhar suas experiências. A diretora da UGC, Celina Cossa, recebeu neste ano, dois prêmios internacionais: um em Nova Iorque (EUA), atribuído a líderes que combatem a fome e a pobreza, e outro em Oslo (Noruega), por seu trabalho em defesa do meio ambiente. À frente da UGC há mais de 20 anos, Celina Cossa disse que, atualmente, a entidade diversifica suas atividades, não ficando restrita apenas à agricultura. Agora, atuam também com avicultura, construção civil e comercialização de produtos. Além da parte comercial, a UGC tem um intenso trabalho social de amparo, não só às famílias dos associados, como também de ajuda às comunidades carentes do país. São desenvolvidas ações de formação profissional (carpintaria, mecânica e informática), alfabetização, ensino secundário e técnico e também de atendimento em postos de saúde. Para manter sua trajetória de sucesso, Celina Cossa destacou que a UGC segue algumas estratégias: prioridade para as mulheres nas funções de direção; projetos de longo prazo; extensão rural; sistema de crédito; associativismo e valorização do capital humano. “Eu nunca tomei uma decisão sozinha. Sempre executo as orientações da assembléia dos associados”, disse ela, ao explicar os longos anos à frente da entidade. “No início, os homens achavam que nosso projeto não daria certo, pois era dirigido por mulheres que, diziam, só conheciam as tarefas domésticas. Mas vencemos”, resume. Ela acha importante compartilhar as experiências, e por isso veio ao Brasil. “Os brasileiros são criativos, e temos muito a aprender aqui”, disse Celina, acrescentando que nunca aceitei ver uma criança pedindo pão e não ter o que dar.  "Todos somos capazes de fazer alguma coisa. É preciso, no entanto, mudar a nossa mentalidade. E a troca de experiências começa por aí, pela humildade em querer aprender e força em querer executar”.