Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Da mesma forma que 11,2% da população brasileira, o lavrador Valterci Aparecido Nascimento mal sabia assinar o nome até os 38 anos. Filho de agricultores, quando chegou à idade escolar, Valterci teve de começar a trabalhar na lavoura. Ainda tentou freqüentar as aulas, mas, ao fim de dois anos, o cansaço venceu à disposição. A aposentada Horosita da Rocha Honorino também deixou a escola após perder a mãe aos oito anos de idade, diz que diante da falta de oportunidades, “esqueceu de estudar”.No início do ano, Valterci, que vive no assentamento Chico Mendes, no município de Arinos (MG) e Horosita, de Brazlândia (DF) tiveram a oportunidade de voltar às salas de aulas. Não apenas para aprender a ler e escrever, mas também para aprender uma atividade que lhes proporcionasse ganhos financeiros. As comunidades onde vivem Valterci e Horosita foram selecionadas para participar do projeto Alfa-Inclusão, experiência piloto do Ministério da Educação (MEC) em parceria com a Fundação Banco do Brasil e que faz parte do programa Brasil Alfabetizado, que, segundo o MEC, já alfabetizou 7,2 milhões de jovens e adultos.Outras 88 pessoas foram beneficiadas pela experiência. Em Arinos, onde os participantes do curso se dedicam à produção rural, foi criada uma cooperativa para ajudar na produção e venda dos produtos. Em Brazlândia, os alunos das duas turmas se uniram e criaram uma associação onde será vendido o artesanato feito por eles. Além disso, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC (Secad), irá publicar dois cadernos sobre o desenvolvimento do projeto e seus primeiros resultados.Assim como Horosita, Valterci espera que ministério não dê a iniciativa por encerrada. “A gente queria que este projeto tivesse continuidade para a gente se desenvolver mais porque tem muita gente necessitada. O curso foi encerrado e, até agora, não estamos vendo nada (que indique que o curso irá continuar)”.Para o diretor do Departamento de Educação de Jovens e Adultos da Secad, Timothy Ireland, ainda é cedo para afirmar categoricamente que a iniciativa foi um sucesso. Mesmo assim, diante dos resultados e do entusiasmo das primeiras turmas, o ministério já discute como dar continuidade ao projeto. “Quando se olha o caminho percorrido por estas pessoas, percebe-se que elas avançaram bastante. Não esperamos que eles se alfabetizem em apenas oito meses, já que, para o MEC, a alfabetização é um processo mais longo. Mas elas não só já apresentam um domínio razoável da leitura e da escrita, como demonstraram iniciativas importantes para se inserirem no mercado de trabalho”Para o secretário, a estratégia de agregar geração de emprego e renda à alfabetização é uma forma eficiente de enfrentar o problema da evasão. Além disso, ele destaca outro aspecto positivo do projeto, que foi sua sistematização. “No Brasil existem inúmeras experiências em educação de jovens e adultos que não são registradas, avaliadas, nem divulgadas. Há pessoas que se beneficiam delas de maneira direta, porém, quando elas chegam ao fim, não servem de estímulo para outros projetos”.