Aline Beckstein
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Uma manifestação contra a violência marcou atradicional festa de dia das crianças da comunidade Nova Holanda, noComplexo da Maré, subúrbio do Rio de Janeiro. Entre o pula-pula e ascamas-elásticas montados nas ruelas, moradores, representantes demovimentos populares da Maré e de Organizações Não-Governamentais (ONGs) protestaram contra a morte dequatro crianças ocorridas no mês passado. Elas teriam sido vítimas daviolência policial em quatro comunidades.A passeata chegou a provocar o fechamento de umtrecho da Avenida Brasil, a principal via de ligação entre a zona nortee o centro. Os manifestantes se concentraram na Praça da Nova Holanda,onde o menino Rennan, de três anos, foi baleado enquantosaia com a avó, Zenilda Ribeiro, que estava a caminho da sua zonaeleitoral, no dia do primeiro turno das eleições.“Até hoje não sei o que aconteceu direito com o meuneto. A informação que eu tenho vem dos jornais”, disse a avó, mostrandouma faixa com reportagens sobre a morte do menino, onde o destaque eraa manchete “Chapa quente na Maré. Menino morre baleado”.Na praça, um carro de som pedia justiça para asvítimas, competindo com o barulho dos bares que tocavam funk e dosmotos táxis que atravessavam a comunidade. Zenilda Ribeiro disse queveio com a mãe de Rennan e com os três irmãos do menino, que junto comooutras crianças também participaram da manifestação, vestindo camisascom fotos do irmão.“Me dá muita revolta quando eu penso na violênciapolicial, o Rennan podia estar participando da festa hoje. Mas para ascrianças eu não falo isso, digo só que ele foi chamado para morar emoutro lugar, no céu”, disse Zenilda Ribeiro.Para o diretor da ONG Observatório de Favelas,Jailson Silva, a manifestação não é simplesmente contra a violênciapolicial, mas sim “contra um modelo de segurança pública, que na guerracontra as drogas, tem a violência como instrumento fundamental”.Segundo Jailson Silva, “o objetivo não é bater napolícia, que também sofre perdas: de policias, de credibilidade e com acorrupção”, afirmou. “No saldo de mortes desta guerra, a concentraçãode vítimas é da cor negra e pobre: os jovens das favelas e os jovensque entram para a PM. As mães que choram as perdas nesses dois ladosmuitas vezes são vizinhas numa mesma comunidade”.