Entenda como foi a investigação da polícia sobre o dossiê até o momento

06/10/2006 - 14h31

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A descoberta do dossiê contra políticos tucanos, cuja negociação ainda está sendo apurada pelas autoridades, teve origem na investigação sobre o esquema de compra superfaturada de ambulâncias, batizada pela Polícia Federal de Operação Sanguessuga.Acusado de comandar a fraude das ambulâncias, o empresário e dono da empresa Planam, Luiz Antônio Vedoin, ganhou liberdade com o compromisso de ajudar a polícia na investigação, a chamada delação premiada. No dia 14 de setembro, o tio de Luiz Antônio, Paulo Roberto Trevisan, também acusado de participação, disse aos policiais que seu sobrinho pretendia vender um dossiê.A polícia foi atrás. No dia seguinte, 15 de setembro, prendeu Luiz Antônio ao desembarcar em São Paulo, onde venderia o dossiê. Outra equipe da PF prendeu dois homens num hotel paulista com o equivalente a cerca de R$ 1,7 milhão, parte em reais (1,1 milhão) e parte em dólares (248,8 mil). Os dois, Gedimar Passos e Valdebran Padilha, seriam os compradores do dossiê.No mesmo dia, em depoimento, Valdebran confirmou que os dois eram os compradores e o dossiê fora montado contra o PSDB. O motivo eleitoral foi levantado pelos compradores, que disseram ser ligados ao PT. Valdebran é ex-filiado ao partido e Gedimar trabalhava na campanha à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva.Em depoimentos posteriores, foram surgindo nomes de outros petistas que estariam acima destes na hierarquia do partido. Novos indícios de ligação com o PT surgiram quando o ex-chefe de informações e inteligência da campanha de Lula, Jorge Lorenzetti, admitiu que tinha interesse no dossiê. Para analisar a veracidade dos documentos, tinha enviado o diretor licenciado do Banco do Brasil e também integrante da equipe de reeleição de Lula, Expedito Veloso, e Gedimar Passos a Cuiabá.Lorenzetti também envolveu no esquema o coordenador de Comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) ao governo de São Paulo, Hamilton Lacerda, ao informar que o dossiê seria entregue a ele. Posteriormente, a análise das imagens das câmeras de segurança do hotel mostrou Lacerda entrando no hotel com uma “bolsa grande e preta”, segundo a PF. Ele aparece com a bolsa na entrada, no corredor e no elevador do hotel. Depois de se encontrar com Gedimar, sai do hotel sem a mala.Ao falar do presidente do PT e ex-coordenador da campanha de Lula, Ricardo Berzoini, Lorenzetti esquentou a investigação. Disse que Berzoini sabia que ele iria se encontrar com jornalistas para conversar sobre uma pauta de interesse do partido, mas que desconhecia o assunto. Eram da revista Época, que negociava a possibilidade de divulgar o dossiê.Lorenzetti ainda envolveu o responsável pelo capítulo de Trabalho e Emprego do programa de governo de Lula, Oswaldo Bargas. Disse que ele também participou da negociação com a revista.Por sua vez, Gedimar Passos disse, ao ser preso, que o ex-assessor especial da Presidência da República Freud Godoy teve participação na compra. Até o momento, a polícia não encontrou indícios disso. Todos os envolvidos estão afastados dos cargos que ocupavam.Durante a investigação, o delegado da PF Edmilson Bruno entregou à imprensa cópias das fotos do dinheiro apreendido no hotel, tiradas durante perícia. Como a Justiça havia determinado que o processo ficasse sob sigilo, o delegado responde a processo disciplinar administrativo que pode levar à demissão e a um inquérito na Superintendência da Polícia Federal. Se ficar provado que cometeu crime de quebra de sigilo funcional, pode ser condenado a uma pena de seis meses a dois anos de prisão.Também falta determinar a origem do dinheiro e o caminho percorrido por ele até chegar ao hotel no dia da prisão de Gedimar e Valdebran. Algumas informações já foram divulgadas, mas são insuficientes para se determinar quem teria financiado a compra do dossiê.